A FEIRA DO VOTO

Por Zizo Mamede

Quando qualquer veículo da imprensa faz manchete com a adesão de um grupo de políticos, com ou sem mandato, a um determinado candidato, era de se esperar que a notícia informasse aos e-leitores em que bases esse apoios são definidos. Mas não é isto o que acontece. A tônica das adesões se resume ao número de votos que podem ser somados nessas negociações.

Nenhuma linha é escrita pelos articulistas sobre propostas políticas de tais enlaces entre os candidatos e seus apoiadores. Nenhum questionamento é feito. Nenhuma dúvida é levantada. Como se os políticos se aproximassem uns dos outros movidos apenas pelo carisma, pela boa vontade com o bem comum da coletividade, pelo altruísmo à moda de Comte.

O fato é que muitos fatores encobrem as negociatas feitas por baixo dos panos nas sombras da noite. A população brasileira não tem a tradição de valorizar os partidos políticos, vistos desde a época do Império como “farinha do mesmo saco”, quando liberais e conservadores se revezavam nos gabinetes sem nenhuma ruptura ou descontinuidade.

No Brasil, prevalece o personalismo político. As companhias, os parceiros e partidários dos candidatos tem menos importância entre os critérios para a definição do voto. Por outro lado, quando há corrupção eleitoral nos arranjos das alianças, a chamada opinião pública sempre condena quem se vende vendendo os votos de terceiros, mas nunca condena quem compra apoios, quem arremata votos no varejo.

A negociata funciona em cascata. O chefe político arrebanha um punhado de agentes políticos que tem correias de transmissão com nichos eleitorais através dos tradicionais cabos eleitorais. E não falta quem se apresente como dono dos votos dos outros. Às vezes ocorre uma espécie de leilão. Quem tem mais leva mais. – É uma feira!

Uma parcela do eleitorado entra no jogo por duas des-razões. Por um lado observam que no geral a vida dos políticos é bem mais aquinhoada do que a da imensa maioria do povo. Por outro lado, há uma desinformação que infecta muita gente que crê piamente que a cada eleição “vem uma verba” para os políticos gastarem com os eleitores.

Não existe mais ninguém inocente porque os recursos para a boa informação estão disponíveis, principalmente na rede mundial de computadores. Mas, num mundo onde impera o instantâneo e a superficialidade, as empresas de comunicação contribuem negativamente porque, na ânsia de fragilizar o Estado em favor do neoliberalismo, descuidam da informação democrática e plural sobre a política.

Sem a boa informação, fica como o diabo gosta. Os compradores e vendedores de votos fazem a festa. Os eleitores desinformados, desesperançados e raivosos, se não são vítimas, são presas fáceis nas garras dos políticos que não têm o chamado voto de opinião, este sim nutrido no debate sobre as políticas públicas e as grandes questões nacionais.

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