A VIOLÊNCIA E A SENSAÇÃO DE VIOLÊNCIA

Por Zizo Mamede

Pode acontecer com qualquer um, a qualquer hora, em qualquer cidade: tombar de tiro, ou mais raramente de facada, na violência que se disseminou por todas as regiões do país. Mas, pela cobertura que a mídia dá ao fenômeno, a impressão que se tem é que a violência está aumentando em todos os lugares, mas que é muito maior em umas cidades do que em outras.

Por exemplo, quem não mora em Campina Grande e só sabe das coisas da cidade pelo rádio ou pela TV acha que a Rainha da Borborema está sitiada pelos criminosos, numa guerra que teria piorado a partir da instalação do governo de Ricardo Coutinho. Quem não vive em Campina Grande nem tem o mínimo de convivência com a cidade tem a sensação de a cidade vai acabar a qualquer momento, tomada pelo crime organizado.

Jogo de poder – De fato, a sensação de violência em Campina Grande é maior do que a violência de fato. A mídia anti-Ricardo Coutinho espetaculariza, ou melhor, exponencializa as notícias sobre os crimes cometidos na cidade. – Mídia e imprensa não querem dizer necessariamente jornalismo.

Quem visita Campina Grande se surpreende com a presença das pessoas comuns do povo até as horas avançadas da noite nas ruas da imensa maioria dos seus bairros. Vendendo ou comprando churrasquinhos, cachorro quente, dvds piratas, indo e vindo da escola ou da igreja, ou simplesmente conversando com os camaradas.

Campina Grande não é aquela cidade vazia, deserta, amedrontada como amplos setores da mídia tentam fazer crer. – O que está em jogo para quem produz uma sensação de insegurança violência bem maior do que a violência de fato é criar um desgaste para o governo da Paraíba.

Quem quiser fazer jornalismo de verdade, em Campina Grande ou em qualquer cidade do Brasil, deve investigar, fazer pesquisas, entrar no debate honesto sobre o tema, porque sem isto, sem o aprofundamento da abordagem, está-se apenas fazendo disputa de poder e nada mais.

Para além dos noticiários – A propósito do problema da violência no Brasil há um bom acúmulo de pesquisas, de abordagens e de propostas de políticas de segurança pública. Por exemplo, o Instituto Sangari elabora ano a ano o Mapa da Violência no Brasil. Pasmem! As estatísticas revelam que no geral o número de homicídios está diminuindo, recuando em algumas regiões e se expandindo em outras. Já o IPEA revela que a percepção da população brasileira sobre a violência, inclusive a violência policial é maior, em que pesem a redução dos homicídios.

Quem liga a TV tem a impressão que o Rio de Janeiro e São Paulo são os lugares mais violentos do país, o que não é verdade. A violência de morte está retrocedendo naquelas paisagens, apesar dos picos de assassinatos nas chacinas em algumas épocas do ano. Os grandes canais de televisão aberta, entretanto, disputam uma audiência mórbida, numa batalha feroz para ver quem mostra qual das grandes cidades do Brasil é a mais desgraçadamente violenta.

Quem gosta de ler em profundidade sobre a violência deve apreciar uma obra antológica de um jornalista de verdade: o livro Rota 66, escrito por Caco Barcelos. Ou então ler outro livro de mesmo quilate, A Elite da Tropa, escrito pelos policiais do BOPE André Batista e Rodrigo Pimentel, em parceira com o antropólogo Luiz Eduardo Soares. Ou apenas ver o que revela o filme Tropa de Elite 2, dirigido por José Padilha, uma obra que é arte, em nada ficcional.

Em tempo: Sobre a violência e sobre tudo o mais é preciso ir além dos noticiários. É preciso ver e ouvir a mídia com um pé atrás e muito desconfiado.

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode gostar