BUCHADA AZEDA

Por Nal Nunes

O deputado Carlos Batinga sempre foi um homem meticuloso em tudo que faz e, quando o assunto é culinária, sua exigência fica muito mais aguçada. Normalmente procura saber a origem das comidas postas em sua mesa.

Em 1995 durante a sua campanha para prefeito de Monteiro, lá estava Carlos Batinga, como todo político do interior, fazendo a tradicional peregrinação pelo voto. Visitar e almoçar nas casas dos matutos da zona rural sempre foi a principal estratégia para conquistar o voto do eleitorado humilde.

Pois bem, naquele domingo havia uma agenda pré-fixada para participar de um torneio de futebol num determinado sítio da zona rural de Monteiro, cujo prêmio principal seria o patrocínio de um padrão de camisas e uma bola de futebol.

A notícia da presença de Carlos Batinga correu veloz pela redondeza onde residia uma senhora que, não podemos revelar seu nome, porém, os mais íntimos a chamavam de dona Sebosa. Como fervorosa torcedora de Batinga se antecipou para avisar ao seu ilustre candidato que o almoço seria na casa dela.

O motorista era Jurandir de Severino de Lídia, cabra de Boi Véi, conhecido pelo apetite voraz que sempre teve.

Chegando a casa de Dona Sebosa, no terreiro havia dois meninos jogando bola com uma velha “canarinho” costurada de remendo por todo canto e também, como em toda casa do mato, uma parea de cachorro aparentando oito dias de fome.

O cheiro da buchada se espalhava pelo terreiro e Carlos Batinga com o faro apurado indagou ao motorista: Tais peidando Jurandir?

-Não, é a buchada que tá no fogo…!

A recepção foi aquela festa. Prosas, abraços e promessas de ambos os lados marcaram o início do almoço de Dona Sebosa.

-A conversa tá boa doutor, mais se sente logo aí que eu já vou botar o almoço, eu fiz o que o senhor mais gosta de comer, uma buchada.

Ao lado da mesa havia uma janela, justamente o lugar onde Jurandir montou assento.
Não demorou e aquele mesmo aroma do terreiro tomou conta da farta mesa de Dona Cebosa, que orgulhosamente dizia:

-Ói pessoal, esse bucho aqui é para meu prefeito, vão comendo outros pratos que esse aqui é só prá ele!

Carlos Batinga, sob o olhar agradável de Dona Sebosa, tratou logo de servir seu prato com arroz e verdura, deu uma tapeada com um enroladinho e como bom estrategista sugeriu:

-Olhe, aqui tá tudo uma beleza, mas se não for incomodo eu queria pedir um pirão, a senhora faz?

-Oxente! Só se for agora doutor… vai Zé, bota mais lenha no fogão! E já foi logo em saindo em direção à cozinha preparar o famoso pirão.

Naquilo Carlos Batinga apressou-se:

-Vai Jurandir, come logo esse bucho ligeiro!

-Deixe comigo!

Jurandir só fez estralar o dedo para veludo que estava se acabando de fome no terreiro e não deu dois minutos que já havia devorado tudo. Do lado de fora, os meninos curiosos assistiam aquela cena suspeita.

Mas Dona Sebosa não se cansava de trazer mais bucho.

-Ói doutor, trouxe mais um bem quentinho pro senhor!

-A senhora tem limão?

-Aqui não doutor, mais a vizinha aqui tem um pé, eu vou buscar, é prá já!

Jurandir novamente entra em ação e dar sumiço aos pratos de buchada.

Terminada a refeição, Dona Sebosa com um sorriso de canto a canto, justifica sua alegria:

-Mais doutor, eu tô muito satisfeita. Eu acertei ter feito essa buchada, o senhor comeu todinha…não sobrou nada!

Pois é, buchada não é todo mundo que sabe fazer não! Tava boa demais!

Enquanto isso, Jurandir se levanta e vai ao encontro dos meninos que fizeram logo uma ameaça.

-Ei, eu vi o senhor jogando a buchada prá veludo, vou dizer a mãe!

-Cala essa boca menino. Toma essa bola de couro e fica calado!

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