DORGIVAL TERCEIRO NETO

Por Ramalho Leite

Dificilmente eu deixava de ir abraçá-lo a cada 12 de setembro.Se levasse uma simples gravata de presente, era recriminado. Dispensava qualquer afago, mas não me negava a alegria de um abraço sincero.Era o seu jeito. Acostumado ao poder sem dele tirar proveito, sabia como ninguém viver longe dele e reconhecer os verdadeiros amigos. Na despedida, concluía: você é dos poucos que se lembram de mim…E continuo me lembrando, Dorgival, e lhe rendendo as melhores homenagens.Hoje me falta o abraço, mas não deixo de re gistrar minha saudade.
Em um discurso, chegou a traçar o seu perfil: “Ninguém procura o destino; percorrem-se caminhos que levam até ele. Menino do mato, nascido nas terras sáfaras de Taperoá, que foi meu berço e será meu túmulo, criei-me contemplando, a pouca distância das fraldas da Borborema, a pedra do pico, segundo ponto mais alto da Paraíba, com o feitio de um polegar gigante apontando para o infinito. Mas minha admiração silenciosa para o alto, nunca me infundiu inveja e nem ambição para alcançar mais do que a vida me reservasse.”

Dorgival Terceiro Neto não procurou o seu destino. O destino o procurou e fez dele um dos grandes da Paraíba. Deixou o Colégio de Padre Vieira, em Patos, e virou comensal da Casa do Estudante da rua da Areia, onde ingressou em 1951. Foi concluinte da Faculdade de Direito em 1957, já federalizada.Enquanto estudava, iniciava-se no jornalismo na velha escola da Praça João Pessoa- A União. Foi servidor da Universidade e do Judiciário, recebendo do governador Flávio Ribeiro seu primeiro emprego, no DER. Diretor do Paraiban, dalí saiu para governar nossa Capital.

Como prefeito de João Pessoa estruturou a edilidade e deu-lhe o primeiro Plano Diretor. Fez seu cadastro imobiliário e instalou um Centro de Processamento de Dados quando pouco se falava em computador por estas bandas. Os servidores municipais passaram a receber salário mínimo como piso. Começou a pagar a previdência nunca honrada em seus créditos. Até o Fundo de Garantia, um ilustre desconhecido por ali, sentou praça na Prefeitura.Construiu 16 unidades escolares e acabou com os “pardieiros”, como chamava as escolas então existentes.Deu sede a várias secretarias e a cidade ganhou um novo Pronto Socorro.

Quando ainda não se falava em mobilidade urbana, avançou no tempo e abriu a Pedro II, ligando-a ao Castelo Branco; a BR-230, chegou à Beira-mar pelo retão de Manaíra; o Cabo Branco ganhou uma avenida de retorno e o contorno do Farol; paralela à Epitácio, surgiu a Beira-rio e da favela removida de suas margens, nasceu a Cidade Padre Zé. Deixou a Lagoa toda ajardinada e com um sistema de irrigação permanente; reformou a Bica e levou para a maré a água que transformava o Bairro dos Estados em uma lagoa a cada inverno. Construiu os mercados do Bairro dos Estados, Jaguaribe, Castelo Branco e Oitizeiro . Tudo isso em apenas dois anos e dez meses.

A ligação da Cidade Alta com a Cidade Baixa deu lugar ao Viaduto da Miguel Couto. Como era o terceiro viaduto da cidade, eu o batizei de Terceirão, na data de sua abertura. Passaram a chamá-lo de Viaduto Dorgival Terceiro Neto. Nunca houve uma lei que concedesse esse batismo. Aguardo a iniciativa de um licurgo municipal.

Antes que me esqueça: a antiga Universidade Autônoma de João Pessoa, hoje UNIPÊ, empreendimento vitorioso de um grupo empresarial/religioso foi viabilizada em seu nascedouro por que Dorgival criou a Fundação Municipal exigida pelo MEC. Nunca se fez esse reconhecimento histórico.

Pela obra que realizou na Capital, Dorgival foi escolhido vice-governador de Ivan Bichara e ocupou em caráter definitivo o cargo de governador da Paraíba.

Como advogado manteve um respeitado escritório de advocacia e, na qualidade de mais antigo filiado à OAB, foi o principal homenageado durante os 80 anos daquela Casa.Ocupou a Cadeira 07 da Academia Paraibana de Letras e a Cadeira 45 do Instituto Histórico. Se vivo estivesse, completaria, hoje, 83 anos.Para resumir a vida e obra de Dorgival Terceiro Neto, concedo-lhe, novamente, a palavra:

“Assumi compromissos e tomei responsabilidades, mas tão logo me desincumbia dos afanosos ofícios, saia às pressas, sem olhar para trás, por que não carregava pesadelos”.(Do capítulo Gente do Meu Passado, no livro Gente do Passado,Fatos do Presente,republicado nos 84 anos de DTN)

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