Frigorífico usava notas falsas para regularizar carne podre, diz polícia

De acordo com a Polícia Federal, um dos frigoríficos investigados pela Operação Carne Fria, deflagrada nesta sexta-feira (17), usava notas fiscais falsas para regularizar carnes que já tinham passado da data de validade. A Justiça determinou 27 prisões preventivas, além de 11 temporárias e mais 77 mandados de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a depor.

O caso das notas aconteceu na Peccin Agroindustrial, de Curitiba. De acordo com o despacho do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, que autorizou os mandados da operação, a empresa comprava as notas de produtos com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para justificar a compra de carnes que, em alguns casos, estavam podres.
Para disfarçar o sabor da carne para os consumidores, a empresa usava um produto químico, o ácido ascórbico, em quantidade acima do permitido pela legislação.

Esse era apenas um dos muitos casos descobertos pelos investigadores da Polícia Federal. Gravações telefônicas obtidas ao longo de dois anos mostraram uma série de irregularidades, tanto em empresas pequenas e médias, como o caso da Peccin, quanto em grandes companhias, como a BRF e a JBS, e as respectivas subsidiárias delas.

As ilegalidades contavam com o apoio de fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cujo trabalho era justamente evitar esses problemas. Eles recebiam propinas em dinheiro e também em mercadorias das empresas, para favorecerem as empresas tanto com afrouxamento da fiscalização, quanto com a obtenção de licenças de funcionamento de locais que deveriam ser interditados.

De acordo com a Polícia Federal, os fiscais envolvidos no esquema eram, em muitos casos, chefes de superintendências. As fraudes foram identificadas em seis estados e no Distrito Federal.

Partidos e políticos citados
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, é citado na investigação. Em conversa grampeada quando ele ainda era deputado federal, Serraglio chama o ex-superintendente regional no Paraná do Ministério da Agricultura, Daniel Gonçalves Filho, de “grande chefe”. Daniel era Superintendente do ministério no Paraná e apontado pelapolícia.

Segundo a PF, a investigação apontou que parte da propina recebida pelas superintendências ia para o PMDB e o PP. O PMDB informou que desconhece o teor da investigação, e o PP ainda não se manifestou.

Papelão no frango
No relatório, a Polícia Federal cita uma conversa entre o gerente de produção da BRF em Carambeí, no Paraná, Luiz Fossati, e um funcionário. A PF diz que eles falam em colocar papelão junto com a carne moída, descrita no diálogo como CMS.

Funcionário: O problema é colocar papelão lá dentro do CMS também né. Tem mais essa ainda. Só que não dá pra mim tirar. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora se eu não consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar.

Luiz Fossati: Aí tu pesa tudo que nós vamos dar perda. Não vamos pagar rendimentos isso.
A BRF divulgou em nota sobre o uso do papelão. Segundo a empresa, o funcionário estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. Quando ele diz “dentro do CMS”, está se referindo à área onde o CMS é armazenado.

A BRF diz que isso fica ainda mais claro quando ele diz que vai ver se consegue “colocar em papelão”, ou seja, embalar o produto em papelão, pois esse produto é normalmente embalado em plástico.

Veja as empresas que são alvo de busca e apreensão na operação Carne Fraca:

– Big Frango Indústria e Com. de Alimentos Ltda.
– BRF – Brasil Foods S.A.
– Dagranja Agroindustrial Ltda./Dagranja S/A Agroindustrial
– E.H. Constantino
– Frango a Gosto
– Frigobeto Frigoríficos e Comércio de Alimentos Ltda.
– Frigomax – Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda.
– Frigorífico 3D
-Frigorífico Argus Ltda.
– Frigorífico Larissa Ltda.
– Frigorífico Oregon S.A.
– Frigorífico Rainha da Paz
– Frigorífico Souza Ramos Ltda.
– JBS S/A
– Mastercarnes
– Novilho Nobre Indústria e Comércio de Carnes Ltda.
– Peccin Agroindustrial Ltda./Italli Alimentos
– Primor Beef – JJZ Alimentos S.A.
– Seara Alimentos Ltda.
– Unifrangos Agroindustrial S.A./Companhia Internacional de Logística
– Breyer e Cia Ltda.
– Fábrica de Farinha de Carne Castro Ltda. EPP

Outro lado
A BRF declarou que está colaborando com as autoridades no esclarecimento dos fatos. A empresa afirmou que cumpre normas e regulamentos referentes à produção e à comercialização de seus produtos, que possui rigorosos processos e controles e que não compactua com práticas ilícitas. A empresa acrescentou que assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e que garante que não há riscos para os consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.

A BRF também reiteirou que a gravação em que funcionários da empresa se referem a papelão numa de suas fábricas é um claro e gravíssimo erro da Polícia Federal, pois, segundo a nota enviada pela BRF, o funcionário estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo e que isso fica claro quando ele disse que vai ver se consegue colocar em papelão, pois esse produto é normalmente embalado em plástico.

A Central de Carnes Paranaense – dona das marcas Master Carnes, Novilho Nobre e Souza Ramos – declarou que acredita que a investigação é de suma importância para a concorrência leal no mercado e que continuará colaborando com as investigações e afirmou que seus produtos seguem à risca as exigências de qualidade.

O Grupo Argus também declarou que acredita na investigação e está à disposição das autoridades e que obedece as observações sanitárias e de qualidade determinadas.
Afirmou ainda que sustenta de maneira irrestrita instalações plenamente administradas pelo Sistema de Inspeção Federal e seus técnicos, sem interferir nem solicitar favorecimentos.

O Frigorífico Rainha da Paz negou envolvimento em quaisquer atos ilícitos e disse que está colaborando com as investigações. A empresa afirmou que mantém rigoroso controle de qualidade e de higiene e que adquire somente matérias-primas selecionadas e com procedência. Declarou ainda que repudia veementemente a comercialização de produtos impróprios, alterados e inadequados para o consumo.

O Frigorífico Larissa não vai se manifestar e nós não conseguimos contato com o peccin e os outros frigoríficos citados.

A Associação Brasileira de Proteína Animal, que representa os frigoríficos brasileiros, declarou que o Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade e pelo status sanitário de seus produtos. Afirmou que falhas que venham a ser comprovadas são exceção em um modelo que é referência para o mundo. A entidade acrescentou que condena quaisquer práticas comprovadas que impactem negativamente o consumidor do brasil e do exterior e que todos os problemas dectados vão ser rapidamente corrigidos pelo setor, intensificando-os cuidados em prol da qualidade.

A defesa de Roney Nogueira afirmou que o cliente está fora do brasil, mas que está providenciando o retorno e que tem interesse em colaborar com as investigações.

O advogado de Diniz Lourenço disse que a suspeita contra ele não tem comprovação, e que não se vai se sustentar depois do depoimento dele.

O G1 não conseguiu contato com as defesas de Flavio Cassou, Maria do Rocio e Daniel Gonçalves Filho.

O PMDB declarou que desconhece o teor da investigação e que não autoriza ninguém a falar em nome do partido.

O PP também afirmou que desconhece o teor das denúncias e acrescentou que apoia uma investigação minuciosa e o esclarecimento rápido dos fatos.

G1

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