João Dudu – Por Zelito Nunes

João Dudu era um velho sertanejo brabo, com um chapéu de abas gigantescas dobradas na fronte, uma pajeuzeira e um rabo de égua em cada lado da cintura, presos por um largo cinturão de sola, vestia sempre um mal cortado terno de brim cáqui, roupa que na época caracterizava os velhos carranças do Sertão.

Recordo o mestre Filizardo Garcez que tinha sido cangaceiro do Doutor Augusto Santa Cruz e já com seus oitenta e tantos anos, morava na vila da Prata. Era um caboclo bastante alto para os padrões sertanejos, magro e de olhos acinzentados, com seu terno cáqui seu punhal na cintura e uma cara dura que botava onça pra correr só com um olhar. Eu que morria de medo dele, ficava abismado quando minha mãe dizia que tinha sido com o mestre Filizardo que aprendera as suas primeiras letras.

Chapéu de couro quebrado na testa uma baixa verde e uma “rabo de égua” pendente na cintura, era essa a indumentária daqueles sertanejos, sempre prontos para enfrentar um iminente inimigo.

O velho João Dudu, morava na fazenda Malhada do Riachão, atualmente município de Tuparetama, um lugar ainda hoje isolado e de acesso penoso.

A fazenda Malhada era vizinha da fazenda Caiçara, que fora comprada por um português.

O português tinha um filho chamado Orlando que arrumou um namoro com Francisquinha filha do velho João Dudu e começou a “alisar” os bancos da fazenda Malhada, contra a vontade do velho fazendeiro: “Eu crio minhas fias pro serviço de casa, não é pra namoro não “!

A rebeldia da moça movida pelo motor da paixão, entretanto, não permitiu que o namoro se acabasse ali. Continuaram a se encontrar escondidos, acobertados pela cumplicidade de Terezinha a irmã mais nova, que trazia e levava bilhetes e recados.

O namoro prosseguia na sua clandestinidade quando tomaram uma decisão radical: fugiriam numa segunda feira às seis horas da tarde. Orlando a estaria esperando atrás da cerca de pau a pique do velho curral que ficava ao lado da casa grande.

Chegado o dia, estava lá na espera Orlando no seu cavalo, pronto para a maior aventura da sua vida.

Seis horas, o sol se pondo, os animais se recolhendo, os vagalumes acendendo as suas lanternas verdes, a noite estendendo o seu escuro véu sobre a caatinga, só Francisquinha não chegava.

Já impaciente Orlando viu se aproximar um vulto de mulher, segurou a emoção, preparou-se e no lusco-fusco percebeu que não era a sua amada e sim a irmã mais nova com a mais nova notícia:

– Orlando, Francisquinha se arrependeu e mandou eu vir aqui te avisar que ela desistiu de fugir, eu vim aqui, só te dizer isso .

– Mas é danado, Terezinha: eu esperei esse tempo todo, fiz despesas, fiz até uma feira que tá aqui na carona, e agora, o que é que eu faço?

– Sei não Orlando!

– Ô Terezinha, pra eu não perder a viagem, tu não queres ir comigo não?

– Eu quero!

– Então sobe na cerca e monta aqui na garupa.

Terezinha montou, fugiram, casaram, tiveram filhos e viveram juntos e felizes por muitos e muitos anos.

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