O SERVAGE

Por Zelito Nunes

Gregório Filó é irmão do poeta Manoel Filó. É um sujeito cheio de histórias engraçadas, grande poeta e conhecedor como poucos daquela matutada dos Cariris e Pajeús.

É amigo, compadre e velho companheiro de Antônio de Catarina.

Antônio reconhece o poeta que habita na alma de Gregório mas contesta a sua calma e tranquilidade. Segundo Antônio, o compadre Gregório nem sempre é calma e tranquilidade, bote coentro na sua comida ou pise no pé dele.

Foi por isso que Antônio lhe botou o apelido de “Servage”.

Um dia saíram os dois de São José e foram “tomar uma” na vizinha de Itapetim. Lá, beberam, declamaram versos contaram histórias e discutiram. Discutiram feio, por motivos que nem um dos dois lembrou depois e Gregório levantou-se e ameaçou ir embora. Antônio pegou na palavra:

– Pode ir, agora sem mim , eu fico aqui e não vou com você não!

Gregório entrou no Passat e deixou o compadre/amigo na mesa do bar acompanhado somente da sua garrafa.

Antônio deu um tempo, mandou chamar um táxi e avisou:

– Não quero pressa, pode ir devagarinho.

A estrada que liga São José a Itapetim, parece uma cobra em movimento de tanta curva que tem e foi numa delas que o apressado Gregório sobrou e desceu rolando aterro abaixo. Como não sofreu nenhum ferimento, deixou o carro lá embaixo e subiu pra pista, em busca de socorro.

Coincidentemente, foi na hora que o táxi de Antônio ia se aproximando.

Ao ver Gregório acenando com a mão o taxista foi diminuindo a velocidade pra socorrer o poeta. Foi quando Antônio, que já tinha reconhecido o companheiro interveio:

– Não pare não, não pare que aquilo é um assaltante perigoso.

O motorista que nada sabia da briga dos dois, ainda tentou contornar:

– Mas seu Antônio, não é seu Gregório?

– Não pare de jeito nenhum !

O taxista obedeceu e tocou em frente.

Antônio chegou em casa, tomou um banho, puxou a cadeira de balanço pra calçada e ficou aguardando as notícias do acidente, uma vez que o companheiro fatalmente passaria na frente da sua casa que fica na avenida que liga a Itapetim.

Não deu muito tempo e lá vem o Passat puxado por um reboque improvisado que trazia também o “Servage” que fez questão de virar o rosto, pra não ver o compadre e seu sorriso de ironia.

Horas depois, já estavam os dois no bar de Lindalva, na rua da Baixa, tomando “umas” declamando versos e contando histórias, coisas que sempre souberam fazer muito bem.

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