PADRES DE TAPEROÁ

Por Ramalho Leite

Revisitando Dorgival Terceiro Neto em “Taperoá, crônica para sua história” encontrei o padre Theodomiro de Queiroz Mello o quarto sacerdote nascido nas terras da antiga Fazenda Batalhão, depois batizada de Taperoá, ou Taper-uá para os indígenas, morador das taperas ou aldeia abandonada em tradução registrada por José Leal Ramos, jornalista caririzeiro que fez nome na imprensa tabajarina. Não precisei ir em busca do meu batistério para saber que foi o padre Theodomiro que sacramentou o meu batismo na Igreja da Paróquia de Serraria, onde chegou a partir de 1927 e alguns anos depois foi promovido a Cônego. Seu nome ficou na minha lembrança de menino, repetido pela minha mãe.

Em alentado estudo sobre as origens da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Taperoá, Dorgival inclui em ordem cronológica os religiosos nascidos naquela terra que também foi o seu berço. O primeiro deles, Galdino da Costa Vilar, nascido na Fazenda Carnaúba, chegou a governar a Paraíba. Primeiro, em um Junta Governativa, e depois, como Presidente da Província após ter exercido o mandato de Deputado Geral. Pertencente à família Vilar, igualmente a Dorgival, foram os dois, os únicos filhos de Taperoá que governaram este Estado.

O segundo padre foi Paulino Vilar dos Santos Barbosa ordenado no Seminário de Olinda em 1840. Era neto do português que fundou a Fazenda Carnaúba e sobrinho do Padre Galdino. Não era vigário da Paróquia mas praticava esporadicamente atos religiosos, notadamente nos seio da família, a exemplo dos batismos de Dorgival Vilar de Carvalho e de Melquiades Vilar, avô e pai de Dorgival.

O terceiro padre, Abel Alves Pequeno era sobrinho do Padre Paulino e foi contemporâneo de José Américo de Almeida no Seminário Diocesano da Paraíba no inicio do século passado. Bem apessoado, não perdia uma vaquejada e se metia na política enquanto exercia as funções de coadjutor do tio padre. A convivência entre os dois durou até o momento em que o padre mais jovem passou a assediar as namoradas e amantes do padre velho. O padre Paulino batizava os próprios filhos mas nunca registrou a paternidade deles. Desses “órfãos de pai” muitos descendentes povoaram Taperoá.

Padre Abel ficou famoso pelos seus destemperos não apenas verbais, mas chegando às vias de fato. Certo dia mandou para o inferno um sujeito com quem discutia. O atrevido retrucou: Se o senhor me ensinar o caminho… Não teve dúvida. Entrou em casa e munido de um rifle “papo amarelo” voltou ao terreiro e mandou bala. Enquanto o homem corria ele gritava: o caminho do inferno é por aí mesmo, seu safado! E depois justificou para as testemunhas: Atirei só para assustar…

Conta Dorgival: “Quem conheceu Padre Abel dá conta de suas presepadas. Eis mais uma: dando confissão na Igreja de Taperoá, uma mulher lhe narrava suas culpas temporais. Deixou escapar um flato, cujo mau cheiro foi direto às narinas do confessor, que logo se levantou e indagou da confidente se ia fazer o “serviço” ali mesmo, pois não iria ser perdoada. Envergonhada, a mulher retirou-se apressadamente”.

O padre Theodomiro, que me batizou em Serraria, foi o quarto padre nascido nas terras banhadas pelo rio Travessia. Chegou a ser professor do Seminário Diocesano. Vigário de Taperoá entre 1923 a 1926 foi para a paróquia de Serraria que englobava Pilões, Arara e Borborema, onde nasci. Faleceu em 1958. Era filho do primeiro matrimonio do pai do desembargador Manoel Taigy, do nosso Tribunal de Justiça.

Sempre releio Dorgival Terceiro Neto quando me interesso em mergulhar na Paraíba de antanho. No dizer do historiador Armando Souto Maior, Dorgival revelava uma virtude rara – a de como se fazer história com humor. Essas pinceladas de um dos seus trabalhos, servem-me de inspiração para o discurso de posse no Instituto Histórico Paraibano. A cadeira que ocuparei, a partir do dia 25 deste, tem como patrono Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo e fundador Dorgival Terceiro Neto. Ambos, ex-governadores da Paraíba. Tremo com a responsabilidade.

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