SEVERINO ELÓI

Por Zelito Nunes

Quando cheguei em Monteiro, lá pelo anos sessenta, conheci Severino Elói, que tinha um caminhão velho e somente um braço. Usava um paletó surrado, com uma das mangas penduradas, como se não se conformasse com a falta do braço perdido.

Era casado, se não me engano, com Raimunda. Depois se mudou pra Rio da Barra e lá colocou um hotelzinho na beira da pista que liga Sertânia a Iguaracy, onde ostentava uma bateria de panelas de alumínio sempre limpas e polidas, o que era, na época, um cartão de visitas que recomendava qualquer restaurante.

O meu velho e saudoso amigo Wilson Galdino, sempre que nos encontrávamos na Bodega do Cearense aqui no Recife, me contava inesquecíveis histórias da nossa saudosa Monteiro. Uma delas, que Wilson deixou comigo e nunca esqueci foi essa de Severino Elói.

Num tempo em que o trajeto entre as duas cidades, era todo de barro, ele saiu de Monteiro com destino a Arcoverde, com uma carga de carvão. Não era tarefa pra qualquer caminhão não, principalmente pra o de Severino que se arrastava penosamente cumprindo aquela longa travessia de marmeleiro, caatinga branca e favela.

Num trecho ladeiroso, entre Monteiro e Sertânia, era preciso dar toda a carga no acelerador numa descida, pra garantir a subida da outra ladeira, em função da limitação da potência da velha máquina, que por estar sempre com os pneus na lona, só podia viajar no período da tarde quando o sol era mais brando e maneirava mais no estouro dos velhos pneus.

Pois bem, numa dessas tardes, lá vai ele descendo a fatídica ladeira, dando tudo que podia em velocidade para subir a outra que lhe esperava. Só não contava com uma pedra no meio do caminho, que estourou logo um dos pneus. No impacto, aquela patinha que ficava no capuz “voou” também e uma de suas asas metálicas se incumbiu de rasgar o outro pneu.

Severino, desceu, cubou a situação e olhou pra o relógio, a tarde já indo embora, o sol dando adeus a todos. O pior é que a viagem estava apenas começando e havia um longo percurso a ser vencido.

Severino desceu da boléia, olhou pro caminhão todo inclinado para um lado, tirou o sapato e, com a ponta do pé, começou a cutucar umas locas de pedras que havia no leito da estrada.
O ajudante que a tudo assistia imaginou:

– Meu Deus, o homem dessa vez endoidou! Severino, o que é que tu estás procurando.
E ele bem tranquilo:

– Nada não: é só uma cascavé pra me morder…

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