Por Ramalho Leite
A vaga do paraibano Ariano Suassuna na Academia Brasileira de Letras já tem dono. Seu sucessor não é paraibano mas, por coincidência, nasceu em Além Paraíba, território das Minas Gerais. Trata-se do jornalista e escritor Zuenir Ventura, premiadíssimo, até pela ONU, em função de seu trabalho em defesa dos direitos humanos. Sua obra de maior repercussão é o livro “1968,o Ano Que Não Terminou”, uma alentada pesquisa sobre o Brasil pós 64 e a efervescência do movimento estudantil clandestino que culminaria com o frustrado Congresso da UNE, em Ibiúna.
Em março daquele longínquo ano do século passado, a turma concluinte da Faculdade de Direito da UFPB da qual fiz parte, foi paraninfada pelo presidente Costa e Silva. Enquanto os estudantes protestavam nas ruas contra a morte do seu colega Edson Luiz, no confronto do Restaurante Calabouço, nossa turma era passageira de um avro da Presidência da República em direção ao Rio Grande do Sul, passando pelo Rio de Janeiro e depois Brasília. O recrudescimento da movimentação de rua, levaria à “passeata dos cem mil” e acabaria por “justificar” o AI-5. Naquele momento, os concluintes paraibanos eram inocentes úteis aos interesses do regime, empenhado em demonstrar uma aproximação, mesmo que aparente, com a nossa juventude.
O mimo presidencial nos faria chegar ao Rio, um pouco antes do incidente do Calabouço. Os homens da turma ficaram hospedados em um anexo do aeroporto Santos Dumont, um quartel da Aeronáutica, enquanto as jovens advogadas e as esposas dos novos bacharéis, ganharam a hospedagem no apartamento de Cesar de Oliveira Lima, primo do nosso professor Oliveira Lima, acompanhante do grupo.
Esse tipo de hospedagem com maridos a um canto e esposas em outro, seria repetido em Porto Alegre, onde ocupamos alojamentos distintos da Brigada Militar. Em Brasília, porém, os casados não suportavam mais a separação conjugal. Era um sábado pela manhã e do aeroporto militar procuramos localizar o deputado Ernani Satyro, abordado pelo hoje desembargador aposentado João Machado, cunhado do deputado Egídio Madruga, e portanto, correligionário de Satyro. O líder do governo Costa e Silva não se fez de rogado e deixou o Clube do Congresso onde limpava a garganta com seu whisky preferido, e autorizou nossa permanência em um hotel do Setor Hoteleiro Norte.
A primeiro de dezembro daquele ano, nascia meu filho Flavio Rogério. Para ele, 1968 terminou em abril deste ano, em um Domingo da Ressurreição, 45 anos depois. Para sua esposa, suas filhas, seus pais e irmãos restou uma saudade que nunca vai terminar. Neste primeiro Natal da sua ausência, foi a presença mais sentida.