Por Ramalho Leite
Quando D.Pedro I abdicou do trono do Brasil, ficou difícil ao governo imperial conter as escaramuças entre os nacionais e os portugueses saudosos do Monarca. Havia um receio de que os militares se posicionassem pelo retorno de D.Pedro, principalmente, pela falta de confiança no exército, então formado por homens de origem humilde e sem nenhuma qualificação, além do mais, chefiados por estrangeiros. A chamada Regência Trina Permanente, que ocupava o vazio do trono na minoridade de D.Pedro II, passou a diminuir o efetivo do exército e ao mesmo tempo tentava encontrar uma alternativa que garantisse a manutenção da ordem pública. Era agosto de 1831, (sempre agosto) e para suprir essa necessidade, foi criada a Guarda Nacional a ser instalada pelos Juízes de Paz em cada município. Os membros da Guarda seriam recrutados entre os eleitores com renda superior a 200 mil réis nas grandes cidades e 100 mil réis nas demais.
A Guarda Nacional era uma instituição civil, mas em caso de guerra, serviria de força auxiliar do Exército. Seus préstimos poderiam ser requisitados pelos juízes de Paz e Criminais, pelo Presidente da Província e pelo Ministro da Justiça aos quais estava subordinada. Ao governo cabia a escolha dos coronéis e majores da Legião da Guarda Nacional. Os demais oficiais, foram, inicialmente, eleitos pela tropa para um mandato de quatro anos. Posteriormente, passaram a ser nomeados pelo presidente da Província, mediante propostas das Câmaras Municipais. A Guarda Nacional começou a ser desmobilizada a partir da República e sua ultima aparição ocorreu no desfile de 7 de setembro de 1922, nas comemorações do Centenário da Independência.
A República deu adeus à Guarda Nacional mas deixou florescer por muitos anos ainda a figura do Coronel como fenômeno social e político. A escolha dos coronéis recaía sempre entre grandes proprietários de terra que somavam o seu poder econômico à força política. Os coronéis tanto ajudavam a subir, como arquitetavam a queda de um governo. O governo dependia dos coronéis, políticos locais, donos da terra, do voto e da liberdade dos seus adeptos.O coronel se sobrepunha ao Estado e prevalecia o seu mandonismo. Durante toda a República Velha vigorou esse coronelismo, baseado na formação de uma clientela subserviente mas agradecida… A troca de favores estabelecia um liame de gratidão entre o soba e o cidadão, deixando este à mercê do senhor do baraço e cutelo. Do coronel Felinto Rocha na feira de Moreno: “Aqui eu quero, posso e mando”.
Herdeiros dos títulos da antiga Guarda Nacional, outros coronéis e majores foram assim batizados como sinônimos de chefe político. Ainda nos dias de hoje, o tratamento de Coronel serve para agradar pessoas de posses ou de importância política, seja ela analfabeta ou graduada. Cheguei a conhecer o coronel José Antonio Ferreira da Rocha, já velho e doente, morando nesta Capital à rua Duque de Caxias. Herdeiro político e de parte do bens do seu sogro, comendador Felinto Rocha, foi deputado à Assembléia Constituinte de 1933. Em Bananeiras, porém, só alcancei o poderio dos majores. Na primeira eleição que participei, com meu pai candidato a prefeito, seu adversário era o promotor publico da comarca. Era uma evolução. A prefeitura estava saindo das mãos de um major. Aproveitei para fazer um slogan: quem não é doutor nem major/ tem que ser o melhor! ( Continua na próxima coluna)