Por Ramalho Leite
Não é essa a primeira vez, na Paraíba, que se desfaz uma coligação partidária. Desde a redemocratização em 1945, incluindo o garroteamento político implantado pelos militares e continuando na volta das eleições diretas, que se registram esses episódios. Eu era menino e ouvi meu pai comentando que Clovis Bezerra, a quem ele seguia na UDN, deveria optar por Argemiro de Figueiredo e não por João Agripino, quando os dois se separaram indo um para o PTB e o outro ficando com o que restou da UDN. Clovis preferiu João Agripino, daí porque eu nasci udenista. Na ocasião, meu pai lembrou ao seu deputado que Argemiro completara sua eleição destinando-lhe os votos udenistas de Soledade. Foi em vão.
Antes disso, Argemiro e José Américo já protagonizavam cisma semelhante, com o desligamento de Américo da UDN para ingressar no PL. Depois seria a vez de Argemiro sentir na pele a separação de correligionários que foram obrigados a optar entre ele e Agripino.Sem esquecer a divisão pessedista de 1960, quando um Pedro Gondim rebelado deixou as hostes de Ruy Carneiro, seu compadre, fundou o PDC e enfrentou seu antigo chefe,vencendo-o nas urnas.
Se fossemos lembrar as divergências entre governantes que saíram com os que entraram, teria que citar Tarcisio Burity, para quem somente Tomé de Souza, primeiro governador geral do Brasil, por razões óbvias, não brigou com o antecessor….
Ernani Satyro, primeiro governador eleito pela Assembléia, começou a emulação com seu antecessor, João Agripino, desde os primeiros dias do seu governo. Como João anunciou a construção de mil obras, Ernani respondeu com “dez obras que valem por mil”. Na sua sucessão, exigiu definição dos deputados- os votantes daquela eleição. Chamava um a um os integrantes da sua bancada e exigia definição. O deputado Assis Camelo tentou escorregar e indagado com quem ficaria, respondeu: “são dois grandes paraibanos”….Ernani contrapôs na bucha: “Isso eu sei, amigo velho! Quero saber com quem você fica!” Assis ficou com o ocupante do Palácio.
A lua de mel de Ernani com o sucessor que ele mesmo indicara, Ivan Bichara, durou até a inauguração da Rodovia Redenção do Vale onde estiveram juntos cortando a fita. A guerra foi total, com direito até a famosa carta anônima distribuída em uma quarta- feira de cinzas e atribuída aos ernanistas. A propósito, as más línguas atribuíam aos Gaudêncio a autoria da carta por serem os mais destacados amigos de Ernani. Ivan, com muito bom humor preferiu acreditar: “depois que esses gaudêncios aprenderam datilografia, ninguém tem mais sossego na Paraíba”…A versão é do deputado Edvaldo Motta.
Por sua vez, Burity, cuja candidatura nascera pelas mãos de Bichara e crescera ao redor das jabuticabeiras do Solitário de Tambaú, começou a separação com seu antecessor ao substituir o engenheiro Hermano Almeida, cunhado de Bichara, na Prefeitura da Capital. Dizem que o Ministro José Américo morreu sem saber dessa sucessão na chefia da cidade das acácias.Com a palavra Lourdinha Luna…
O primeiro governador eleito pelo voto direto, mas vinculado, artimanha dos militares,foi Wilson Braga, que sucedera Burity e depois foi sucedido por ele, mesmo com um Milton Cabral pelo meio. Deputado mais votado da historia da Paraíba, Burity foi o candidato da oposição a Braga, seu candidato na eleição anterior.Derrotou Marcondes Gadelha. Sucedido por Ronaldo Cunha Lima, Burity mandou o deputado Carlos Dunga lhe transmitir o cargo. O que começou mal não poderia terminar bem.Ronaldo passou o governo a Antonio Mariz e o destino do Estado a José Maranhão. No episódio do Campestre, houve o racha. Derrotado na convenção do PMDB, Ronaldo partiu para fundar o PSDB, cujo espólio transferiu ao filho Cássio Cunha Lima.
Para derrotar Maranhão, o PSDB coligou-se com o PSB de Ricardo Coutinho, então prefeito bem avaliado da Capital. Cássio e Ricardo alcançaram seus objetivos. Ambos se ajudaram e as cadeiras de Senador e Governador foram ocupadas por eles. Agora deram um fim à coligação vitoriosa que tinha fôlego para mais vinte anos de hegemonia na Paraíba. Os seguidores de ambos são chamados a se decidirem por um dos dois. Não adianta dar a desculpa de Assis Camelo. É proibido ficar em cima do muro. Nenhuma novidade. É a história que se repete.