Por Ramalho Leite
A Paraíba possui um tesouro guardado em uma das dependências desta Casa. Trata-se do arquivo do jornal A União, registro de mais de cem anos da história do nosso Estado, do Brasil e do Mundo.Sonho com a execução de um projeto que viabilize a disponibilidade de todo esse acervo na rede mundial de computadores.Enquanto o acesso está limitado aos pesquisadores, vez por outra mergulho nessas folhas já encardidas pelo tempo e com o uso de mascara e luvas,faço minha expedição ao passado.
Em busca de informações sobre a retaliação contra um comerciante alemão na Vila de Moreno (Solânea) quando do afundamento de navios brasileiros por submarinos inimigos,cheguei a edição de 06 de outubro de 1943.
A manchete dava noticia da iminente invasão das tropas aliadas aos Balkans facilitada pelos guerrilheiros do general Tito, “que controla grande parte da costa iugoslava”. Em outra frente, a fraca resistência das tropas alemães possibilita a aproximação a Roma do oitavo exército aliado. Por outro lado, Berlim admitia a evacuação da Córsega, o que levaria a uma comemoração de vitoria nos territórios sob a jurisdição dos franceses livres. Entre nós, o Ministério da Guerra concedia licença do serviço ativo aos soldados casados, reservistas de primeira e segunda categorias.
O Presidente Getúlio Vargas chegava a Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e em sua homenagem tremulavam as bandeiras das Nações Unidas nos principais edifícios públicos.”Na hora da chegada do Chefe da Nação,o comércio cerrou as suas portas e as fábricas deixaram de funcionar.Dos municípios vizinhos, logo que foi conhecida a noticia da vinda do Presidente Getulio Vargas, começaram a chegar inúmeras delegações” noticia A União, na primeira página.
Na Paraíba, trava-se a Batalha da Produção envolvendo até os índios de Baia da Traição desejosos de ferramentas para a implantação de uma cultura da mandioca. É inaugurada uma estrumeira na Fazenda São Rafael. Entre outras noticias auspiciosas transmitidas aos presentes àquela inauguração, o Sr. Manoel Tavares que hoje é nome de rua em Cruz das Armas comunicou que foram extintos 530 formigueiros nos arredores da Capital com a utilização de 75 quilos e 400 gramas de arsênico e 530 quilos de carvão.
Em Cajazeiras a população se preparava para comemorar o Centenário do Colégio Padre Rolim e o Colégio Estadual da Paraíba (Liceu) elegia paraninfo da sua turma concluinte o dr. Samuel Duarte, à época, Secretario de Interior e Segurança do Estado e, depois, quase tudo na Paraíba e destaque no cenário nacional. Era reconhecida a Faculdade de Filosofia do Recife e a Escola Preparatória de Cadetes de Fortaleza abria seu concurso de admissão.
Na capital, no palco do Cine Plaza, era encenada a peça “Coração de Cigana”, seguindo-se um “desfile das bonecas” que não se trata do que vocês estão pensando, mas de um desfile de belas jovens da sociedade, acompanhados dos seus respectivos paraninfos. A primeira a desfilar, Roberta Stuckert Vasconcelos, acompanhada do seu paraninfo Interventor Rui Carneiro, foi seguida por outras senhoritas, dando inusitado êxito ao evento que visava contribuir para as obras sociais de dona Alice Carneiro.
As noticias da sociedade não levavam a assinatura de qualquer cronista da época mas davam conta de nascimentos, noivados, casamentos e batizados. Naquele dia, nascia na cidade de Borborema, o menino Severino, homenagem do seu pai, Arlindo Ramalho, a São Severino do Ramo, promessa feita quando passava pela Estação de Paudalho(PE) onde fica seu santuário. O meu nascimento, porém, não está registrado nas páginas deste jornal, “injustiça” que corrijo com 67 anos de atraso..DO LIVRO A BOTIJA DE CAMUCÁ.