Por Sérgio Bezerra (publicado em 6 de abril de 2012)
Antigamente, o “nêgo” Ditinho de Expedito Barrão (foto) passava uns tempos em Monteiro e outros lá pras bandas da Bahia. Numa dessas idas e vindas, o peste do “nêgo” voltou imitando Luiz Caldas, o cantor precursor do axé music. E não é que o sujeito, todo cheio de munganga, fazia um sucesso danado com as meninas? Isto bem antes de conhecer dona Cristina, é bom que fique registrado.
Certa tarde, estávamos eu e Lanzudo quando Ditinho chegou com o Gordo de Mané Remígio e Hercílio, irmão de Ernani Pachola, na barbearia de seu Mané Zuza, pai de Quinca do Bar, que ficava em frente à mercearia de Mariano Bezerra, meu avô. O intuito era tirar a penugem que tinha na cara, e que ele insistia em chamar de barba.
Acontece que tinha havido, no sábado anterior, uma festa no Clube Municipal, com a banda Trepidantis, a coqueluxe da época, e o “nêgo” tava contando aos amigos, com mentira e tudo, o que tinha aprontado na festa. Na oportunidade, dizia que estava encantado por uma jovem que conhecera na festa e que, além de boazuda, era moderna e fogosa feito as baianas.
Já sentado na cadeira do barbeiro, o negão contava que a coisa estava ficando tão boa que os pombinhos resolveram sair do clube para namorar à vontade, no beco por trás do Banco do Brasil. Aí, de repente, para de contar a estória e diz:
– Olha ela entrando na mercearia de seu Mariano!… Vê como a bicha é bonita e boa.
De fato, mesmo de longe, a menina deixou todo mundo boquiaberto com tamanha formosura.
O “nêgo” se animou ainda mais, mas, antes de continuar a história, perguntou:
– Vocês conhecem?
Ninguém conhecia, nem mesmo seu Mané Zuca, que, encabulado, com o convencimento do negão, e enquanto amolava a navalha, soltou:
– Pois essa moça eu conheço até demais, eu a vi crescer.
Hercílio perguntou:
– E quem é, seu Mané Zuca?
Seu Mané, piscando o olho, e encostando a navalha no caroço do pescoço do “nêgo”, disse:
– É minha neta, a netinha que eu gosto mais.
Ditinho ficou branco na mesma hora, e o Gordo de Mané Remígio, percebendo a aflição, jogou gasolina no fogo e emendou:
– Termina a história, Negão.
Ditinho, soluçando, gaguejando e com os olhos esbugalhados, olhando para navalha do barbeiro, respondeu:
– Aí, seu Mané, nisso eu me acordei..