A confraria entre um diminuto grupo de jornalistas de João Pessoa que acabou se transformando na discricionária e excludente Associação de Mídias Digitais (AMIDI), comandada por Fábio Targino (PBAgora), Gutenberg Cardoso (PolêmicaPB), Walter Santos (WSCOM), Heron Cid (MaisPB), Fabiano Gomes (Blog do Gordinho) e ClickPB, foi literalmente implodida nesta quinta feira (29) durante o I Seminário de Portais da Paraíba que promoveu para empreender a anunciada “uniformização” do mercado.
O evento, que tinha tudo para ser uma grande e histórica festa onde de forma democrática donos de blogs e portais definiriam regras claras para acesso à verba da mídia estatal, acabou em vergonhoso barraco, desnudando por inteiro interesses nada republicanos existentes na entidade.
Apresentações e elogios de praxe deram início à programação, aberta com um discurso do presidente do Tribunal de Contas do Estado, Arthur Cunha Lima, que cedeu o auditório João Agripino para a realização do encontro. Em seguida houve uma exposição técnica pelo conselheiro Nominando Diniz sobre as ferramentas de controle e transparência pública para monitoração do uso de dinheiro dos governos pelo TCE. Por último, aconteceu a participação do marketeiro Hermersson Teixeira a respeito das formas de mensurar audiência nos veículos online.
Abertos os microfones para debate o barraco teve início. Questionamentos que não foram devidamente esclarecidos pelos dirigentes da AMIDI, todos eles com respostas monossílabicas, esquentaram o recinto, cujo estopim veio a ser aceso pela desaforada Joelma Alves (Portal do Litoral), anunciando-se discriminada porque a associação não tem nenhuma mulher no seu corpo de associados ou diretivo.
Em resposta Gutemberg Cardoso exibiu um broche do “Outubro Rosa” afixado na lapela da camisa, aludindo seu apoio às causas do sexo oposto e afastando a existência de alguma discriminação na AMIDI. Mas aí ele mesmo azedou tudo ao informar que os primeiros encontros para a formatação da entidade teriam tido tantas brigas que “seria melhor não ter mesmo nenhuma mulher”.
Mas o pior estava por vir. E veio através do insuspeito e poderoso dono da Rede Paraíba de Comunicação, Eduardo Carlos, que entrara no auditório minutos antes já mostrando para a plateia uma cara de poucos amigos.
Tomando por mote o ‘gancho’ da insatisfação de Joelma, Eduardo enfatizou que nem seu grupo e nem os demais conhecidos como “da mídia tradicional” (Sistema Tambaú, Correio, Arapuan e Opinião) haviam se filiado à AMIDI. E estranhou a aprovação do estatuto da associação, que chegara a ser discutido com alguns dos representantes dos chamados grandes veículos, mas não havia sido aprovado por eles.
“Eu disse que seria prudente aguardar a presença de Beatriz Ribeiro, do Sistema Correio, e de Cacá Martins, que havia acabado de assumir a superintendência do Sistema Opinião. Como foi aprovado um estatuto assim? Não houve discussão suficiente”, ponderou irritado chamando para a guerra a sempre conciliatória Beatriz Ribeiro, que visivelmente constrangida e quase à força usou o microfone, mas não transpareceu se estava mesmo a favor ou contra os questionamentos de Eduardo.
Coube outra vez a Gutemberg Cardoso contraditar os interlocutores. Ele alegou que as sugestões feitas por Eduardo teriam sido acatadas e incluídas integralmente no estatuto da AMIDI, mas nem o representante da Rede Paraíba e nem os demais superintendentes haviam tomado conhecimento do documento.
“Pensei que o estatuto fosse ser distribuído aqui”, rebateu Eduardo Carlos, sendo imediatamente ironizado por Gutenberg: “Eduardo, você nos chamou para a sua casa e agora fica contestando o que discutimos?”. Eduardo rebateu: “Não! Fábio Targino (presidente da AMIDI) me perguntou se a reunião poderia ser feita na Rede Paraíba e eu disse que sim. Não altere os fatos”.
Gutemberg e Fábio concordaram que a versão real era a de Eduardo, que ainda considerou pertinente a dúvida de Joelma sobre a formação da diretoria da AMIDI, já que não havia também nenhum membro dos grandes grupos empresariais da Comunicação e também questionou a existência de privilégios para os chamados “fundadores”, cuja direção é restrita aos donos do Polêmica Paraíba, PBAgora, Wscom, MaisPB, Blogs do Dércio e do Gordinho e ClickPb, entre cerca de 500 veículos online no Estado.
A explicação dada por Gutemberg foi de que a fundação de uma entidade se dá entre um grupo de pessoas e que ele teria feito convite a alguns empresários do setor, que aceitaram e começaram a discutir e formatar as regras para a AMIDI, cuja finalidade seria definir regras para a divisão de publicidade pública nos portais. E admitiu, por fim, que os fundadores não entendem muito do assunto por ser o tema novo no cenário até mesmo nacional, daí terem convocado advogados amigos, que também não dominavam o tema, e que se propuseram a ajudar sem cobrança de honorários para elaborar o estatuto da associação.
Na verdade, o que restou claro foi que a entidade quer implantar a adoção do Custo Por Mil (CPM) como norma para a cobrança de veiculação de mídia pública nos veículos online. Já em relação à AMIDI, poderão se associar apenas portais de notícia com visitação superior a 5 mil acessos diários e blogs com 500 visitas por dia.
DIA HISTÓRICO
Presente à mesa dos trabalhos, o secretário de Comunicação do Estado Luiz Torres mostrou alegria pela provável regulação do mercado e disse que aquele era de fato um dia histórico, lembrando a sua atuação anterior como blogueiro na Paraíba. Mas, ao final do ‘balacobaco’, era possível ver-se um Luiz Torres mais realistico a informar aos portais que a distribuição da publicidade estadual continuaria a se reger por critérios próprios.
Já o secretário executivo de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa, Anderson Pires, afirmou que a criação da AMIDI era bem-vinda para profissionalizar o segmento, mas ponderou que a livre iniciativa do cliente continuará existindo.
“Não é obrigatório que todos os clientes públicos só anunciem em veículos associados à AMIDI”.
Para fechar com mais porcaria o seminário, e açoitado talvez pelos requebros de Eduardo Carlos, que a essa altura aplaudido pela plateia já se sentia a salsicha do cachorro quente, Gutemberg Cardoso mostrou que é bicho brabo do Sertão e não leva desaforo para casa.
“Eu também sei jogar baixo”, disse alteando a voz avisando claramente que se Eduardo não se contivesse partiria para o confronto físico.
Marcos Marinho