O açude Epitácio Pessoa conhecido como Açude de Boqueirão, no Cariri paraibano completa 60 anos de fundação nesta segunda-feira (16) em uma realidade preocupante. Depois de já ter sangrado por 18 vezes, o manancial vive a pior seca de sua história, estando em um nível de apenas 4,8% da capacidade total. Abastecendo Campina Grande e outras 18 cidades do Agreste paraibano, a esperança de dias melhores para o açude está na conclusão das obras da Transposição do Rio São Francisco.
Com capacidade para armazenar 411,686 milhões de metros cúbicos de água, o manancial inaugurado em 16 de janeiro de 1957 está com apenas 18,565 milhões, conforme os dados da Agência Executiva de Gestão de Águas da Paraíba (Aesa). Por conta do baixo nível, as cidades abastecidas enfrentam um forte esquema de racionamento de água há mais de dois anos.
Segundo o especialista e recursos hídricos, Isnaldo Luna, que durante 20 anos monitorou o açude como gerente de bacias hidrográficas da Aesa, o açude de Boqueirão divide momentos de sangrias maravilhosas, mas também de secas terríveis.
Sangrias e secas
O açude que hoje comemora 60 anos tem registrado em sua história eventos que são de sangrias maravilhosas e também de secas terríveis. “Desde a inauguração ele sangrou 18 vezes, nos anos de 1967, 1968, 1973, 1974, 1975, 1976, 1978, 198, 1984, 1985, 1986 e 1989. Depois ele passou 15 anos sem sangrar.
Em 28 de dezembro de 1999, o manancial atingiu o pior nível de sua história, antes da seca atual, chegando ao nível de 14%. Os dias de preocupação acabaram da época cessaram em 1º de fevereiro de 2004 voltou a atingir o nível máximo. As outras novas sangrias ocorreram em 2005, 2006, 2008, 2009 e 2011”, contou o especialista.
Melhor fase da história
Quando o açude de Boqueirão sangrou pela última vez, em 2011, ele teve a melhor fase de sua história. Segundo os dados da Aesa, ele passou 202 dias transbordando água sem parar. A sangria começou no dia 6 de março de 2011 e só parou no dia 22 de setembro daquele ano.
“Toda essa história mostra que o açude é resistente, mas precisa de mais atenção para que possa ter um bom inverno e depois superar os dias difíceis. Desde que houve a última seca em 1999, se passaram 18 anos e não foi feita nenhuma mudança para garantir a segurança hídrica. E isso não é só em relação ao governo, mas a própria população. É preciso aproveitar mais a água da chuva. Parece que as pessoas esqueceram que moramos no Nordeste”, explicou ele.
Transposição
Vivendo a pior seca de sua história, a esperança de dias melhores para o açude Epitácio Pessoa está na conclusão da obra da Transposição do Rio São Francisco. A previsão é que a água chegue ao açude neste primeiro semestre de 2017. A transposição deságua em Monteiro e segue até Boqueirão passando por rios e outras barragens.
Para agilizar o processo, por meio de uma parceria agenciada pelo Ministério da Integração, o Governo do Estado São Paulo vai empresar quatro conjuntos de motobombas e outros equipamentos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A previsão é de que essas bombas antecipem a chegada das águas em 25 dias.
Sobre a transposição, Isnaldo Cândido disse que ela está sendo um “plano B” para a falta de chuvas e vai chegar em excelente hora. Entretanto, ele destacou que é preciso ter uma melhor gestão da água, pois o mal uso dessa água, mesmo com a transposição, pode fazer com que a região enfrente novas crises no futuro.
“É preciso entender que a água é um bem finito em qualquer parte do mundo e se não houver gestão ela acaba. Que o governo faça uma boa gestão da água desde já e que as pessoas também se conscientizem de que não podem usar a água como querem”, disse ele.
Medidas de segurança
Para garantir uma segurança hídrica, o especialista destacou medidas que podem ser adotadas a curto e longo prazo. Isnaldo Cândido disse que esta seca precisa deixar um legado para o alerta de novos cuidados para o futuro.
“A construção civil precisa começar a usar medidas alternativas e não usar água tratada para construção. A Indústria também precisa reutilizar a água. As prefeituras e o governo precisam construir os novos prédios já com sistemas de aproveitamento da água da chuva. E os consumidores precisam entender que no Nordeste as cisternas são necessárias. Tem que aproveitar a água da chuva e reutilizar o que puder”, explicou ele.