Apesar da caatinga ser associada à resistência, o bioma não tem conseguido resistir às ações do homem. De acordo com um levantamento do Map Biomas, de 1985 até 2020, a caatinga perdeu 10% da cobertura natural. Isso equivale a 5,9 milhões de hectares, uma área do tamanho de 5 milhões de campos de futebol. A Paraíba é o estado com maior número de municípios em risco de desertificação, 45 no total, todos localizados no Sertão.
Entre os fatores que provocam a perda de vegetação nativa destaca-se o avanço da atividade agropecuária, a pastagem e as queimadas.Entre 1985 e 2020 mais de 10 milhões de hectares de savana e formações florestais foram convertidos em atividades associadas à agropecuária. Outros 1,26 milhões de hectares de vegetação não florestal foram convertidos para o mesmo uso no período. No total, a agropecuária avançou sobre 11,26 milhões de hectares da Caatinga e passou a responder por 35,2% da área do bioma em 2020.
A vegetação natural da caatinga é dividida em três categorias. A primeira é a formação florestal, caatinga fechada e arbórea, a segunda é a savana e a terceira é a campestre, campos naturais, com eventuais presença de arbustos.
Desertificação avança na Paraíba
A Paraíba perdeu 3.750 hectares e, dos 112 municípios do Brasil classificados como áreas suscetíveis à desertificação, 45 são paraibanos.
O professor Washington Rocha, pesquisador da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e do Mapbiomas, explica que o processo de desertificação está avançando na área, uma vez que a caatinga é o principal bioma do Sertão paraibano.
“Embora seja pouco, aparentemente, significa que o processo de desertificação pode estar avançando nesse núcleo, já que a perda da cobertura vegetal contribui para o processo”.
Em média, o estado foi o terceiro do Nordeste que mais perdeu vegetação natural e o segundo com maior perda de formação florestal, caracterizada pela caatinga mais fechada e arbórea.
São Mamede, localizado na região de Patos, é o segundo município do Brasil com maior perda de formação campestre da caatinga. São José de Espinharas, a poucos quilômetros dali, foi o quinto.
O município de Caturité apresenta perda da vegetação natural de 40%, associada à diminuição da superfície de água em 51,8% e uma média de 26 hectares de área queimada por ano entre 1985 e 2020.
Em São José da Lagoa Tapada, o cenário também preocupa os pesquisadores. Houve uma perda da vegetação natural de 16% e diminuição da superfície de água em 28%, com uma média de 411 hectares de área queimada por ano entre 1985 e 2020.
“Ambos os municípios, situados em áreas classificadas como de grave suscetibilidade aos processos de desertificação exemplificam o avanço desse processo na região”, pontua o Professor Washington Rocha.
Aumento das secas
Além de tornar as terras improdutivas e dificultar a produção agrícola, o professor Washington Rocha explica que a desertificação está relacionada ao aumento das secas. A vegetação natural contribui com a umidade na caatinga. Quando há perda significativa, as secas podem se tornar mais severas na região.
A seca é uma condição climática, depende de vários processos, mas a vegetação natural contribui com a retenção da umidade no bioma. Com a destruição da Caatinga, a pouca chuva que cai logo escorrerá para o oceano, restando pouca água para sustentar as formações naturais, causando mais seca ainda, ressalta o professor Washington Rocha.
O professor explica que as perdas da desertificação são irreversíveis e imperceptíveis na caatinga por causa das características do bioma. Ele recomenda ao poder público ficar em estado de alerta e buscar soluções junto às universidades para frear esse processo.
“A desertificação é um processo que avança de forma imperceptível, se confunde com os próprios evento de seca, mas uma vez instalado torna as terras improdutivas, tanto para sustentar a vegetação natural (que deixa de regenerar), quanto para a produção agrícola, mesmo a de subsistência. Recomenda-se ao poder público que olhe mais para a Caatinga, consulte os especialistas, as universidades e institutos de pesquisa nordestinos tem muito a colaborar”.
Por Luana Silva