Por Zizo Mamede
Invariavelmente, na TV brasileira o povo brasileiro nunca aparece no papel principal, senão em produções caricaturadas, tipo Subúrbia, Pé na Cova, A Grande Família, a Escolinha do Professor Raimundo, etc. Alguns canais de TV têm programas diários que reproduzem brigas de família e outros “barracos” protagonizados por gente do povo. Também há certo vulto do povo nos programas “policiais”, cujo ingrediente é a violência espetacular.
Nestes últimos dias, após a Copa da Fifa, repentinamente o povo passou a ser ovacionado pelos magnatas da mídia nacional como o grande protagonista da bem sucedida “Copa das Copas”. – Que bom! A mídia oligopolizada rendeu-se ao obvio, reconhecendo a capacidade do povo brasileiro para grandes realizações.
Aquele discurso orquestrado pela grande imprensa acerca da Copa dos “caos” pretendia depositar no colo do governo Dilma Rousseff um propagandeado desastre da Copa 2014. Uma vez destruído pelos fatos, o discurso da catástrofe deu lugar à narrativa inédita do protagonismo do povo brasileiro.
De fato no período de 2010 a 2014, mulheres e homens do povo não só construíram e reformaram estádios, mas também obras de mobilidade urbana, aeroportos, hotéis e tantas outras atividades que incrementaram dezenas de bilhões de reais na economia e deixaram um legado, para além muito além do tempo da Copa do Mundo.
Porém, não é destes avanços materiais e econômicos que a grande mídia está falando quando exalta o povo, mas do jeito de acolher e da festa que a torcida brasileira fez, encantando, envolvendo e embalando um turbilhão de um sem número pessoas das várias nacionalidades que vieram ao Brasil por ocasião da festa máxima do futebol. – A grande mídia quando vê o povo positivamente, reproduz um estereótipo, o da cordial e festeira simpatia.
Cabe ressaltar, entre outras conjunções adversativas, que a grande imprensa nacional só encontrou essa embocadura do protagonismo do povo na “Copa das Copas” depois que os turistas, a imprensa internacional e os atletas que disputavam a Copa passaram a elogiar, surpresos, o país e o próprio evento catalisador de tantas alegrias. Nas palavras do jogador alemão Poldoski, “o Brasil perdera a Copa nos campos de futebol, mas ganhara a melhor de todas as copas pelo conjunto da obra”. – Não deu para a mídia continuar bancando o pessimismo.
Essa guinada da velha mídia oligárquica e de seus ventríloquos, que de repente descobrem do que o povo brasileiro é capaz de fazer bem feito, faz lembrar o que um dia escreveu Mario de Andrade lá no idos de 1920: “Só nos compreendemos quando os estranhos nos aceitam”.