Em entrevista ao Fantástico (TV Globo) deste domingo (12.abr.2020), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, apontou problemas no fato de haver divergências entre suas orientações e as do presidente Jair Bolsonaro para o enfrentamento à covid-19. O chefe do Executivo federal é contra as medidas de distanciamento social amplo, diferentemente do que prega o Ministério da Saúde.
“Eu espero uma fala única, uma fala unificada. Porque isso leva ao brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se ele escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem ele escuta“, disse Mandetta. Segundo a emissora, a entrevista foi concedida na sede do governo de Goiás, o Palácio das Esmeraldas, em Goiânia.
Sem citar diretamente o presidente, Mandetta também chamou de “coisa equivocada” a presença de pessoas em “encostadas“ em padarias. Bolsonaro visitou, na 5ª feira (9.abr.2020), uma padaria da Asa Norte, em Brasília, e provocou aglomeração em frente ao local.
“Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercados, encostadas, grudadas, isso é claramente uma coisa equivocada“, afirmou Mandetta.
O ministro disse entender que o presidente se preocupa com o lado econômico da crise, mas que é preciso ter uma validação entre os diferentes jeitos de lidar com a crise e se chegar a uma fala única.
“Se eu estou ministro da Saúde, eu estou ministro da Saúde por obra de nomeação do presidente. O presidente olha muito também pelo lado da economia e chama muito a atenção o lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura, entende a educação, mas chama pelo lado de equilíbrio de proteção à vida”, declarou.
Ele chegou a dizer que se cada empresário ou setor econômico começar a achar que é essencial e voltar ao trabalho pode haver 1 efeito cascata. E, se esse quadro for seguido, o Ministério da Saúde apontará na semana seguinte o que cada setor causou de impacto no contágio em cada região.
Na entrevista, o ministro disse também que o Brasil ainda não chegou ao momento mais crítico da crise do coronavírus. O país tinha, até 14h deste domingo (12.abr), mais de 22.000 casos da doença. “A gente acha que maio e junho vão ser realmente os nossos meses mais duros“, afirmou.
O presidente chegou a dizer mais cedo, em live de Páscoa com líderes religiosos, que a “questão do vírus parece estar indo embora”. O discurso vai de encontro ao do ministro Mandetta, que afirmou na entrevista que o comportamento da doença e as projeções de contaminação e de vítimas dependerá das atitudes da sociedade sobre seguir o isolamento ou não.
“Ela [divergência entre discursos] preocupa porque a população olha e fala assim: será que o ministro da Saúde é contra o presidente? E não há ninguém contra ou a favor de nada. É o que eu digo, o nosso inimigo, o nosso adversário, quem que a gente tem que ter foco para falar ó é esse aqui, que é o nosso problema, o coronavírus”, completou.