Por Zizo Mamede
Uma brincadeira comum nas estradas dos sertões era contar jumentos prá passar o tempo durante uma viagem mais longa: Um camarada somava os jumentos de um lado da estrada, outro contava os jumentos do outro lado. Ao fim da viagem ganhava a parada quem conseguisse contar mais jumentos. Essa brincadeira de contar jumentos valia apostas e muitas risadas.
Hoje, nos sertões, ninguém conta mais jumentos porque as pessoas têm transporte próprio. Seja carro, seja moto, cada viajante conduz o seu. Não dá para se distrair e desviar da atenção que a direção requer.
Outro dia peguei o transporte coletivo rumo a rodoviária em Campina Grande e no percurso revivi essa brincadeira, como uma metáfora, na cidade grande. Como não havia jumentos, resolvi contar salões de beleza, academias de ginástica e livrarias. Foram 28 minutos de deslocamento do meu ponto de ônibus até a rodoviária contando esses equipamentos.
O percurso era pequeno, mas o trânsito estava lento por conta do grande número de automóveis particulares. E lá fui eu anotando o que contava, para passar o tempo. Ao fim, consegui contar 8 salões de beleza e 7 academias de ginástica. Nenhuma livraria, nenhuma papelaria sequer.
Ao longo do caminho, notei que havia muitas igrejas, a maioria delas instaladas em prédios que originalmente não eram igrejas, mas imóveis construídos para acomodar casas de comércio. Não contei as igrejas ao longo do meu itinerário. Mas, fiquei com a impressão de que o número de igrejas era maior do que a soma de academias e salões de beleza.
Já na rodoviária fiquei pensando lá com minhas interrogações: O povo de Campina Grande, pelo menos naquela parte da cidade, tem um gosto muito acentuado por igrejas, salões de beleza e academias de ginástica. Será que na minha cidade natal, Serra Branca, também é assim?
Achei estranho o fato de não ter encontrado nenhuma livraria, sequer uma papelaria naquelas vias da cidade de Campina Grande. Afinal, Campina Grande é a sede de duas universidades públicas (UFCG e UEPB), de muitas faculdades privadas, de muitos e famosos colégios e de um bom número de museus.
A nossa Campina Grande não é Itu, a cidade megalomaníaca de São Paulo. Mas, Campina Grande só gosta de tudo grande, como já cantava a saudosa Marinês, “raínha do xaxado”. De fato, aprendemos aqui na Borborema que Campina Grande é um polo urbano no interior do Brasil, um entroncamento das mais importantes rodovias que cortam a vastidão do Nordeste e onde estão importantes e históricas emissoras de rádios e TV, além de jornais impressos.
Campina Grande é uma cidade estratégica em qualquer sentido quando se pensa em desenvolvimento. Não é curioso o fato de em Campina Grande haver muito vezes mais igrejas, salões de beleza e academias de ginástica do que livrarias (e papelarias)?
Campina Grande, o que passa? O que anda nas cabeças e nas bocas? Campina Grande é um retrato do Brasil?