Desde que o canal de streaming Amazon Prime Video anunciou a série ‘Cangaço Novo‘, muita gente se pergunta se a produção retrata diretamente a história dos cangaceiros, ou das quadrilhas especializadas em grandes roubos que aterrorizam pequenas cidades do Nordeste, ou se ambienta a vida no Sertão… Bem, já posso adiantar que todas as possibilidades existem e são muito bem abordadas, banhadas à sangue e com um belo drama familiar. A série estreou oficialmente nesta sexta-feira (18).
Nordestinos e principalmente nós, paraibanos, vão se identificar com as histórias retratadas na série em diversos momentos, seja pelas paisagens, pelos dramas em torno da seca, ou até mesmo pelo dialeto e sotaque dos personagens. Mas, a base central de ‘Cangaço Novo’ é a história de três irmãos: Ubaldo (Allan de Souza Lima), Dinorah (Alice Carvalho) e Dilvânia (Thainá Duarte). Filhos de um famoso vaqueiro do Ceará, os três vivem histórias atravessadas por tragédias e muito, muito sangue.
Depois de uma grande primeira tragédia, Ubaldo deixa o Ceará ainda jovem e vai para São Paulo, onde se torna banqueiro. Dinorah e Dilvânia ficam no Nordeste e são criadas pela tia, Zeza (Marcélia Cartaxo). Elas seguem a vida em lados quase opostos: uma se torna a única mulher em uma gangue violenta de assaltos a banco, enquanto a outra lidera uma espécie de irmandade que cultua o próprio pai, o respeitado vaqueiro morto.
Digamos que a aventura começa quando Ubaldo volta para o Ceará em busca de sua origem e se envolve com as histórias de suas irmãs e da própria cidade, que passa por um período ainda mais quente que o da seca já comum ao Sertão nordestino: uma campanha de eleição municipal. Nesse ponto também fica fácil entender o enredo, já que a disputa política em chamas, típica das cidades de interior, ainda é presente na vida real do grande Nordeste.
O personagem passa a ser cultuado quando chega à cidade e se torna uma espécie de representação da esperança em dias melhores. Ubaldo passa a viver um dilema quando se questiona se deve ou não cumprir seu destino como “cangaceiro”. E, seguindo o fio da trama, o nome ‘Cangaço Novo’ mostra para o que veio. Em certo momento – ainda sem muitos spoilers – os próprios Lampião e Maria Bonita aparecem para encorajar a chefe da gangue. E aí o banho de sangue começa.
Os episódios seguintes fazem uma espécie de vai e vem em torno da história de Ubaldo, Dinorah e sua família. A disputa política também é retratada detalhadamente, justificando determinadas ações tomadas tanto pela gangue como também pelos próprios atores políticos envolvidos nas eleições. É como se, voltando ao passado, a série conseguisse apresentar situações para que o público entenda não apenas os motivos pelos quais os personagens agem como agem, mas também, por que eles são como são.
Atravessada por crimes sequenciais, a primeira temporada de ‘Cangaço Novo’ consegue prender a atenção e, com certeza, deixa um gosto de quero mais.
Ação e violência em solo sertanejo
O ‘Q’ de ação ao qual se refere a produção da série já em sua sinopse é construído em torno dos assaltos a banco. A quadrilha liderada por Dinorah se envolve em grandes crimes por pequenas cidades e deixa rastros de terror bem semelhantes aos que também são vivenciados na vida real.
Tiros, bombas, fogo… ‘Cangaço Novo’ mostra para o que veio e já pode, sim, ser considerada um marco nacional no contexto de produções de ação. Recentemente, a série ‘Os Outros’, da Globoplay, também conseguiu mostrar este mesmo potencial. Na sequência, ‘Cangaço Novo’ faz história também por ter sido a primeira série a ter uma première exclusiva no Festival de Cinema de Gramado.
A violência já conhecida pelos nordestinos a partir da ação histórica dos cangaceiros ganha uma nova roupagem. Bandidos sem nenhum pudor seguem em guerra e protagonizam cenas de crimes bárbaros, como assassinato e estupro, com suspense e, por vezes, um humor sarcástico regado à expressões [e palavrões] puramente nordestinas.
Paraíba em destaque
Já no primeiro episódio da série os paraibanos vão reconhecer as paisagens de Cabaceiras, no Cariri do estado. A “Roliúde Nordestina”, como é conhecida a cidade, teve diversas cenas gravadas nos sítios da zona rural, nas praças, na Igreja [que também aparece no filme clássico “O Auto da Compadecida”] e no Lajedo de Pai Mateus, onde – sem muitos spoilers – as primeiras cenas fortes envolvendo os protagonistas da trama são apresentadas ao público.
E, apesar de muito se falar em Cabaceiras, ‘Cangaço Novo’ também teve gravações em Campina Grande, no Agreste paraibano. Uma explosão à banco foi ambientada na cidade e, na época da gravação, recordo, muita gente chegou a achar que realmente se tratava de um crime. A então agência bancária usada como cenário ficava no bairro da Liberdade, onde hoje funciona uma academia.
Além dos lugares que serviram como locação para ‘Cangaço Novo’, a Paraíba também se destaca pelos atores que são do estado e estão na produção. A lista é grande: Marcélia Cartaxo, Luiz Carlos Vasconcelos, Vinicius Guedes, Buda Lira, Joálisson Cunha, Raquel Ferreira, Daniel Porpino, Fábio Campos, Paulo Philippe, Dudha Moreira, Vando Farias, Geyson Luiz, Ingrid Trigueiro, Patrícia de Aquino.