“Boa noite, quem é? Eu não sei ler.” Essa foi a resposta que chegou por áudio no meu Whatsapp – vinha do Brasil rural para o Brasil da metrópole. Esta repórter – que vive em São Paulo – havia enviado uma mensagem de texto a uma das pessoas retratadas pelo fotógrafo autor das imagens desta reportagem, que acompanhou uma equipe de vacinação no interior da Paraíba. Em tempos de pandemia de covid-19, fazer contatos com possíveis entrevistados à distância acabou se tornando – devido a óbvias questões sanitárias – quase uma norma.
No entanto, esses momentos escancaram a gigantesca distância – geográfica e social – entre as capitais e o interior do país. Uma distância que foi rapidamente vencida pelo coronavírus e que agora tem que ser superada pelas vacinas na corrida para salvar vidas.
A resposta era da filha de um senhor de mais de 100 anos, que, desconfiado, não quis gravar entrevista. Ele foi um dos primeiros a ser vacinado contra a covid-19 em Prata (PB), cidade com cerca de 4 mil habitantes a 130 quilômetros da capital João Pessoa. Lugar tranquilo, onde pouco chove, e cuja maioria da população vive na zona rural. Por lá, todos os profissionais da saúde e idosos já foram imunizados e já fazem parte dos cerca de 11% da população brasileira integralmente protegido contra o coronavírus, informa publicação da National Geographic.
A chegada da vacina em Prata é a última etapa de uma operação logística extraordinária, que começa com a partida do insumo farmacêutico ativo (IFA) de Pequim, na China, a mais de 17 mil quilômetros de distância do Brasil. Chegando aqui, o IFA é utilizado na produção dos imunizantes no Rio de Janeiro ou São Paulo, num processo que dura no mínimo 15 dias. Só então os frascos embalados viajam mais alguns milhares de quilômetros até as centrais de distribuição estaduais, onde as doses são separadas proporcionalmente de acordo com a população de cada local. Dali, partem até os braços dos cidadãos dos 5.568 municípios brasileiros.
Entre esses braços está o de Severino Espiridião de Freitas, 70 anos, que, ao lado de sua plantação, de óculos escuros e com um sorriso no rosto, levantou a manga da camiseta da seleção brasileira para receber uma dose de esperança, como a vacina já foi chamada por outros entrevistados. Nascido em Costado, a um quilômetro de Prata, Severino estudou até a 4ª série e diz que “graças a Deus, praticamente o que eu sei é ler bem meu nome e já estou achando demais”. Aos 20 anos, após casar-se, Severino migrou de ônibus para São Paulo. Contratado como soldador, função que exerceu durante boa parte da vida, passou dois anos na metrópole antes de ser enviado pela empresa em que trabalhava para trabalhar em estados do nordeste brasileiro. “Eu nem sabia o que era soldar, mas um colega me convidou e fui, fiquei anos trabalhando com isso”, conta.
Clique AQUI e confira a reportagem completa
Paraíba Rádio Blog/ National Geographic