Por Zizo Mamede
Não é a primeira vez que a corrupção é agenciada para combater e derrubar governos que se atreveram a diminuir as desigualdades sociais no Brasil. Da mesma forma que tentaram essa manobra contra Lula e agora contra Dilma, as elites econômicas, associadas com as grandes empresas de comunicação, fizeram contra Vargas em 1954 e contra Jango em 1964, chegando à instauração de ditadura militar.
A elite econômica brasileira sempre se deleitou, sem maiores ameaças, num país campeão de desigualdades sociais e de concentração de patrimônio e renda. A propósito, o economista Márcio Pochmann defende a tese de que a unidade nacional nestes trópicos foi costurada na base da histórica desigualdade. “Nós somos um país em que a desigualdade é a nossa marca”, disse Pochmann em novembro de 2011, em entrevista ao site Brasil de Fato.
Nessa mesma entrevista Pochmann relembra que em 1980 o Brasil ocupava o 3º lugar no ranking mundial da desigualdade social, enquanto que atualmente está em 17º lugar no mesmo ranking, Houve melhoras e avanços na redução das desigualdades sociais, principalmente neste início de século XXI, com as políticas de distribuição mínima de renda, a exemplo do Bolsa Família, valorização do salário mínimo e da renda média do trabalhador. Mas, o Brasil ainda está entre os 20 países mais desiguais do planeta, mesmo sendo a 7ª economia do mundo, de um conjunto de 200 países.
São esses avanços sociais que grande parte da elite econômica brasileira não aceita. O sistema Globo de comunicação chega, em seus editoriais, a acusar a política de valorização do salário mínimo de ser inflacionária. O PSDB, através de seu presidente Aécio Neves defende cortes nas despesas do Orçamento Federal com programas sociais.
O fato é que a ascensão econômica e social de milhões de brasileiras e brasileiros a partir de 2003 tornou a sociedade brasileira mais competitiva, não apenas no hall de embarque dos aeroportos e nos bancos das universidades, mas também nos concursos públicos e no mundo empresarial.
No período dos governos liderados pelo PT todos os segmentos sociais, todas as classes sociais avançaram economicamente, mas os pobres avançaram mais, gerando um tremendo mal-estar na classe média e na elite econômica. Essa é a questão de fundo, se pudermos falar de totalidades, que está por trás de todo o mal humor das classes mais abastadas. Nem todos no Brasil apoiam mudanças que tornam o país menos injusto e menos desigual.
Mesmo que não haja uma única acusação contra Lula ou Dilma Rousseff, a corrupção é a desculpa das elites para tentar derrubar o governo que fez reformas iniciais para atacar urgências graves e históricas: fome, desemprego, exclusão escolar, falta de médicos, secas no Nordeste, etc. É contra essas mudanças que a elite nacional se debate. A elite conservadora ainda se posta como se estivesse na casa-grande em oposição à senzala.
Os maiores crimes de corrupção no Brasil são cometidos pela elite. A sonegação anual de 500 bilhões de reais. A evasão fiscal de centenas de bilhões de dólares depositados em contas no exterior. A compra de mandatos eletivos com dinheiro da corrupção. A compra da emenda constitucional para a reeleição durante o governo de Fernando Henrique. A Privataria Tucana. O caso Sivan. A corrupção do Banestado. A corrupção no metrô de São Paulo. Todos estes episódios têm as digitais da elite nacional em conluio com empresas estrangeiras.
Os petistas condenados pela Justiça brasileira pelas acusações de corrupção, deram às elites e a grande mídia, o mote por estas tão desejado, para mais uma vez, hipocritamente, levantarem a bandeira do golpe contra um governo reformista, que querem derrubar, inclusive para impedir que outras reformas, sejam implementadas no país.
A elite corrupta não quer acabar a corrupção. Na mão da elite essa bandeira é falsa. Muitos tolos se vestem com ela.