O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi a pé até o STF (Supremo Tribunal Federal), junto com um grupo de ministros e empresários, para uma reunião marcada de última hora com o presidente do Supremo, Dias Toffoli.
Bolsonaro fez um apelo a Toffoli alertando sobre os riscos de um colapso na economia durante a crise do novo coronavírus. Entre as razões citadas pelo presidente estão novamente as medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos. O ministro, por sua vez, cobrou da União maior coordenação com estados e municípios.
O pedido de Bolsonaro para retornar à normalidade do país acontece no dia seguinte ao pior quadro da Covid-19 no Brasil. Na quarta-feira (7), o Ministério da Saúde informou que foram registrados o maior número de mortes e maior número de casos confirmados em 24 horas desde o início da pandemia. Foram 614 novos óbitos, chegando a 8.536 mortos, e mais 10.503 novos casos, totalizando 125.218 infectados confirmados.
O encontro não estava marcado nas agendas nem de Bolsonaro nem de Dias Toffoli. O presidente estava acompanhado do ministro da Economia Paulo Guedes, na tarde desta quinta-feira (7), além do ministro da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.
Marco Polo de Mello Lopes, diretor da Aço Brasil, representou o grupo empresarial no encontro. Antes da ida a pé até o Supremo, Mello Lopes e outros diretores de indústrias de diversos setores do país estavam reunidos com Bolsonaro no Palácio do Planalto. Confira a lista completa dos 15 empresários presentes.
A reunião foi transmitida ao vivo por Bolsonaro, em sua página no Facebook.
“Os empresários me trouxeram essa preocupação e querem que o STF os ouça para junto com todos nós, porque não compete somente ao Executivo, Legislativo ou Judiciário, buscarmos resolver esse problema (da economia). Economia também é vida, não adianta ficarmos em casa e a roda da economia ter parado. Todos seremos esmagados”.
No apelo, o presidente pediu que o Brasil “voltasse à normalidade” e alertou que se o país mergulhasse em uma possível crise economia “dificilmente sairia dela”. Bolsonaro e Guedes chegaram a falar em “virarmos uma Venezuela” e que, para o presidente, mais valioso do que a vida era a liberdade.
“E não vai ser regime (político) venezuelano não, vai ser economia venezuelana. Vai chegar em um ponto que não dá mais para retornar. Pode evitar que país mergulhe numa crise econômica e que dificilmente sairemos dela. Vamos perder a liberdade. Vamos assistir a saques, manifestações populares que já vimos no passado em situações que não eram sequer próximas a essa”.
O presidente voltou a apontar que as medidas restritivas de governadores e prefeitos seriam as culpadas por essa situação em que a indústria brasileira se encontra.
“Alguns governadores, alguns, foram longe demais nas medidas. Devemos nos preocupar com vidas sim, mas também com a economia, que não anda”, disse Bolsonaro. Em decisão anterior, o Supremo determinou que as medidas restritivas é competência dos Estados e Municípios, e não da União.
‘INDÚSTRIA NA UTI’ E PROPOSTA DE COMITÊ
As manifestações diretas feitas pelos membros do grupo empresarial destacaram que a má situação da indústria brasileira que, segundo eles, estaria “na UTI” durante a pandemia. Mello Lopes pediu a Toffoli que a “roda” da Economia voltasse à rodar, caso contrário poderia haver a “morte de CPNJs”.
O presidente do Supremo agradeceu à explanação e sugeriu a possibilidade de criação de um comitê de crise, unindo federação e empresariado, que possa coordenar uma saída do isolamento social.
“Essas situações que vocês nos trouxeram mostram a necessidade de termos um planejamento, um comitê de crise envolvendo a federação, os poderes, junto com empresários para traduzir o anseio de trabalhar, de se manter funcionando”.
Toffoli também cobrou de Bolsonaro uma coordenação maior com os estados e municípios, com que o presidente tem tensionado sua relação desde o início da crise da Covid-19. O líder do Judiciário também ressaltou que o Supremo observou a Constituição em suas decisões.
“É preciso repensar a retomada. Se formos ver, as pessoas estão saindo às ruas porque as pessoas querem sair. É preciso ter essa saída coordenada. É fundamental a coordenação com estados e municípios. A Constituição determina as competências para os entes da Federação, isso é o que o Supremo tem observado e decidido, sempre respeitando as competências da União”.