Por Luanna Brandão
Ao ler notícias e mais notícias, manchetes e mais manchetes sobre a situação hídrica da nossa região (Cariri paraibano), eu só tenho uma pergunta: a classe política não está vendo isso, não? Vai ser preciso que o Nordeste vire deserto e o nordestino vire lenda, para que os políticos se manifestarem de verdade? Nessa hora os assessores “piram” e tentam, a todo custo, mostrar que o seu “político de estimação” tem, sim, trabalhado em prol do povo. É uma pena que não estejam avisando isso a quem merece saber – o nordestino lutador, aquele que mora no semiárido, que olha para o horizonte e só vê seca e animais morrendo de sede.
Eu observo que ainda há quem faça discursos, embora fracos e solitários, e pouca ou quase nenhuma manifestação para, pelo menos, permitir que o nordestino se sinta verdadeiramente representado. Aqui e acolá um ‘bravo guerreiro’ solta um grito, por vezes quase inaudível, porque quem tem sede não tem força nem para gritar. Eu pergunto: você já viu uma andorinha só fazer verão? Pois bem, um soldado sozinho não vence uma guerra. Assim, esse ‘guerreiro’ que grita solitário não vai mudar a realidade que já se arrasta há anos.
Há muito tempo que o nosso povo aguarda ansioso a chegada das águas do Rio São Francisco para matar sua sede e respirar aliviado, vendo o interior estampar uma capa de revista como ocorre com o litoral. Quem me dera estar viva para alcançar o final das obras da transposição. Quem dera que os nossos representantes deixassem de nos ver como “título de eleitor ambulante”. Mas principalmente quem me dera que o povo enxergasse que enquanto houver uma obra inacabada, eles – os políticos – terão votos e discursos para suas campanhas – aliás, terão de onde angariar recursos para comprar votos na época de eleição.
A situação crítica no Nordeste não teve início ontem. E a única coisa que fizeram foi inaugurar pedaços de uma obra inacabada. Fato. Entra governo, sai governo e só aumenta o gasto do dinheiro público e diminui a água para o povo. Os mananciais estão secando, os animais morrendo e o nordeste virando história. Garantem que deste ano – a transposição – não passa, ou talvez, do ano que vem. Você quer saber o que não passa mesmo? É a vontade de ver esse Nordeste ainda mais próspero. Porque mesmo nessas condições hídricas, ainda somos a parte mais fértil dessa pátria mãe gentil, somos o coração do Brasil, somos um povo lutador que resiste bravamente aos obstáculos.
Finalizo, portanto, refletindo nesse trecho da música “Deixa o rio desaguar”, composição do grande Aracílio Araújo e tão divinamente interpretada por Flávio José: “(…) O são Francisco /Com sua transposição/ No meu nordeste /O progresso vai chegar /Se é que o Brasil/ Agora está na mão certa/ Na contramão/ O meu sertão não vai ficar/ Priorize esse projeto, seu doutor/ E deixe o rio desaguar (…)”.