Além da seca, que já vem afligindo os paraibanos há cinco anos, outro problema ameaça o solo e a vegetação do estado. Só que, desta vez, o processo é irreversível. A Paraíba é o estado brasileiro mais afetado, proporcionalmente, pela desertificação – processo de degradação ambiental que torna as terras inférteis e improdutivas – segundo dados do Instituto Nacional do Semiárido (Insa). Ela é uma consequência das ações humanas e não pode ser revertida – nem com chuva -, apenas desacelerada.
De acordo com a classificação do Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no Estado da Paraíba (PAE-PB), 93,7% do território do estado está em processo de desertificação, sendo que 58% em nível alto de degradação.
“A desertificação é um processo cumulativo de degradação ambiental, que afeta as condições econômicas e sociais de uma região ou país, que ao mesmo tempo em que reduz continuamente a superfície das terras agricultiváveis, faz com que a população desses locais ocupe novos territórios, em busca da sobrevivência”, explica o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), Humberto Barbosa.
O desmatamento da caatinga muitas vezes é feito por pessoas que nem entendem a gravidade da situação. Na casa da agricultora Maria Ana, na zona rural de Santa Cruz, no Sertão paraibano, por exemplo, ainda se usa a madeira da caatinga para o fogão à lenha.
Apesar de também ter um fogão à gás, a idosa prefere manter o equipamento mais antigo em casa. “Eu já estou acostumada, eu acho que [o fogão à lenha] é mais rápido. Eu uso os dois, mas mais esse porque já fui criada nisso mesmo”, justificou.
Quem faz o corte da madeira para abastecer o fogão de Maria Ana é o agricultor Bianor Alves Júnior. Ele explica que corta espécies de angico, catingueira e jurema. “[Corta] inteira. Aí depois tira os galhos e leva a madeira”, relata. “Aprendi com meu pai. Já há muitos anos”.
O mestre em engenharia agrícola explica que há uma alternativa para continuar usando o fogão à lenha sem desmatar a caatinga. “O correto seria que aquele produtor ou aquele agricultor que ainda utiliza fogo à lenha que ele coletasse aquelas árvores já mortas na mata e caídas, não que cortasse as árvores”, recomenda.
Os núcleos de desertificação do Semiárido brasileiro compreendem uma área 68.500 km² em cinco estados: Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí. Esse locais já atingiram níveis de degradação tão altos que são comparados aos desertos – ecossistemas naturais característicos de zonas áridas.
Dos 59 municípios que estão nesse perímetro, conforme a classificação do Ministério do Meio Ambiente, 28 são da Paraíba, localizados no núcleo do Seridó.
Outra área em situação crítica do estado são os Cariris. Segundo Humberto Barbosa, outros 29 municípios da Paraíba estão em Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD), sendo 12 no Cariri Oriental e 17 no Cariri Ocidental.
Os pesquisadores do Lapis também perceberam que, desde 2010, a seca tem contribuído para a expansão das Áreas Susceptíveis à Desertificação. De acordo com os números levantados por equipes do laboratório, áreas de entorno estão aumentando nos últimos anos. “Com elas, pode-se atingir um salto significativo nas áreas classificadas como degradação muito forte e forte nos próximos anos”, comenta Barbosa.