Afastado nesta quarta-feira (6) pelo papa Francisco após acusações de ter acobertado casos de pedofilia, o arcebispo da Paraíba Dom Aldo Pagotto, 66, nega ter agido em benefício de padres suspeitos, mas diz ter errado ao confiar em pessoas que não conhecia.
Em entrevista à Folha, o agora arcebispo emérito confirma que foram descobertos cinco casos de padres suspeitos de pedofilia na Paraíba desde 2004, quando assumiu a Arquidiocese. E diz ter denunciado as suspeitas ao Ministério Público e ao Vaticano: “Não me omiti”.
Folha – O Vaticano anunciou nesta quarta o afastamento do senhor da Arquidiocese da Paraíba. Como recebeu a notícia?
Aldo Pagotto – É uma situação dolorosa, mas eu entendi. Se estou fazendo as pessoas sofrerem, como acham, é melhor aceitar a renúncia. Mesmo sabendo que eu sofro muito mais do que essas pessoas. Pelo bem de todos, eu acreditei que o melhor fosse a minha retirada. Me baseei no exemplo do papa Bento 16, que abriu espaço para uma pessoa nova entrar.
Como o senhor se defende das acusações de que acobertou casos de pedofilia e teve relações com outros homens?
A minha consciência está em paz. Há muitas acusações, principalmente em relação a minha vida afetiva e sexual. São acusações horrorosas, que eu não admito porque são calúnias. Fiquei com uma grande mágoa.
O senhor admite ter acolhido na igreja padres acusados de pedofilia?
Eram padres em crise procurando um lugar para recomeçar a vida. E eu dei essa oportunidade a pessoas que mais tarde se revelaram suspeitas de pedofilia. Fiz o que tinha que fazer: denunciei ao Ministério Público e ao Vaticano. Eu não me omiti. Confesso o meu excesso de misericórdia porque dei uma chance a pessoas que eu não conhecia bem.
Foram quantos casos?
Ao todo foram seis casos, todos na Paraíba. Em três deles os padres foram apontados como culpados e afastados, dois ainda estão sendo julgados e um foi inocentado.
O senhor foi denunciado pelo Ministério Público em 2002 por supostamente acobertar um frei que cometeu abusos sexuais e intervir para mudar o depoimento das vítimas. O que tem a dizer sobre essa acusação?
Este caso foi extinto na Justiça porque não houve nenhuma proteção ao frei nem intervenção junto às meninas. O que fiz, imediatamente, foi celebrar uma missa em campo aberto e chamar todas as mães e meninas para oferecer meus préstimos. Na missa, disse que tanto as meninas quanto o frei precisavam de ajuda. Em nenhum momento agi para silenciar ninguém.
O senhor teve alguma conversa privada com as mães ou as vítimas?
Em nenhum momento houve conversa privada.
Agora que foi confirmada a renúncia, o que pretende fazer?
Estou pensando em voltar para a minha congregação, em Fortaleza. Vou ficar um tempo lá para colocar minha cabeça em ordem. Ser arcebispo emérito não é demérito para ninguém. Quero continuar trabalhando.