EDUCAÇÃO – POR QUE PATINA?

Por Zizo Mamede

Os investimentos do Brasil com educação pública nos últimos alcançaram inéditos 6% (seis por cento) do Produto Interno Bruto (PIB). Há uma década as despesas com educação, somadas as três esferas de governo, eram de 3,9 % (três virgula nove por cento). Do PIB. – Mesmo com muito mais dinheiro na educação pública, o país ainda tem crianças fora da escola e apresenta um dos maiores índices de analfabetismo entre os adultos.

O avanço nos recursos financeiros para a educação pública ainda é insuficiente, mas aponta para a meta pretendida pelos movimentos sociais que exigem pelo menos 10% (dez por cento) do PIB para a educação pública.

Mas as conquistas quantitativas nos investimentos em educação, nem de longe são acompanhadas por conquistas na qualidade da educação pública. Uma bateria de indicadores nacionais e internacionais revela que o Brasil melhora a passos muito lentos a qualidade da educação oferecida nas escolas públicas. – Nas escolas privadas não é diferente, porque a matriz educacional é a mesma. A ambição é que é diferente.

São várias as causas apontadas para os poucos avanços na qualidade da educação pública no Brasil, todas verdadeiras, mas nem todas debatidas com a mesma ênfase.

Distorções nos gastos e outras distorções

Há uma clara distorção na prioridade dos gastos. Os gastos públicos com o ensino superior são relativamente muito maiores do que com educação básica. O valor investido por aluno em ensino superior é 4,8 vezes maior do que no ensino básico. – Essa relação já foi bem pior, visto que no ano 2000 era 11 vezes maior em favor do aluno do ensino superior.

É lugar comum assinalar que os baixos salários pagos aos professores é um problema que afeta diretamente a qualidade da educação. E afeta mesmo, porque atinge mortalmente a autoestima dos profissionais de educação. Para ter melhor remuneração a professora precisa correr entre várias escolas, para dar conta de uma carga horária estupidamente pesada, além das atividades que precisam ser feitas fora da sala de aula. – Imagine-se o efeito das lamúrias de professores e professoras que transferem para os alunos os abismos dos seus egos feridos de morte.

Desencontros na escola e outros desencontros

Existe um desencontro entre a escola e a sala de aula. Os estudantes no geral gostam da escola, do pátio, dos corredores, da quadra, dos intervalos entre as aulas, da ida para a escola e do caminho de volta. A maioria não gosta da sala de aula. Não gostam da maioria das “disciplinas”, principalmente das ciências ditas humanas. – Preferem os murmúrios zombeteiros e os buchichos via celular.

Comumente falam da falta de “estilo” dos alunos, agressivos e mal educados, que não respeitam os colegas nem os professores, que chegam as raias da violência física, do bullying sem limites, quando não do efeito das drogas lícitas e ilícitas no ambiente escolar. Falta-lhes educação familiar. E é verdade! As famílias jogam seus lobos e seus cordeiros na escola. E, depois se esquivam do cotidiano do universo escolar. A escola revida e faz o mesmo com as famílias. – Família e escola só se encontram na matrícula e na entrega do boletim.

Outro problema que a família oferece a seus jovens é o de não cultivar um ambiente de ambição benigna, que desperte na juventude o desejo de investir tempo do presente para ser mais humano, mais capaz, mais correto no futuro. A criança e o jovem aprendem com o que veem, com o que lidam, com o testemunho ou o antitestemunho dos adultos.

Se os pais ou responsáveis pensam que a escola é responsabilidade dos governos e dos funcionários públicos, por que os filhos vão ver de outra forma? Se os adultos não criam, para além dos muros da escola, um ambiente ambicioso de conquistas pelos caminhos da formação escolar, por que os filhos hão de trilhar tais caminhos?

Mudanças de época e outras mudanças

As explicações mais conservadoras para o insucesso da qualidade da formação escolar vão desde acusar a tecnologia de tirar a atenção dos alunos, até mesmo alegar que os estudantes de hoje não querem nada com a escola.

Essa transferência de “culpa” escamoteia uma questão que é mais profunda e que exige um esforço maior de compreensão: Está em curso uma mudança de época que quebra tudo quanto havia de certezas, de modelos e de lugares cômodos.

O mundo é um moinho acelerado que liquidou o lugar de autoridade da escola tradicional. Mas a escola, na sua matriz permanece a mesma para dirigentes e professores apegados ao passado. Permanece a mesma também para os estudantes, que, no entanto, desapegados do passado, sem compromisso com o passado, só veem e só vivem o presente e sua fluidez.

A vida, aqui e agora, feita de instantes e de vertigens, requer da escola e dos professores outras leituras do mundo e outras atitudes. Mais dinheiro para a educação e para os professores é imperativo, é justo e certamente ajuda, mas não resolve o impasse.

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