O ex-médico Roger Abdelmassih, preso na terça-feira (19) em Assunção, no Paraguai, confirmou que usava disfarce durante o tempo que ficou no Paraguai para que não fosse reconhecido. A revelação foi feita em entrevista à Rádio Estadão, informa o Jornal da Globo. Ele foi trazido a São Paulo nesta quarta-feira (20).
O ex-médico confirmou que no Paraguai usava disfarce para não ser reconhecido. “Eu não saía de casa sem a peruca, então, e um óculos. Quer dizer, eu ficava diferente do que eu era”, contou.
No começo da noite desta quarta-feira, Roger Abdelmassih chegou à Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo. De acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Abdelmassih deu entrada no presídio às 18h45. “Ressaltamos que ele já esteve na mesma unidade de agosto a dezembro de 2009”, informa nota.
Chegada a SP
Quando saiu da delegacia em Foz do Iguaçu, no Paraná, Roger Abdelmassih, respondeu se estava arrependido. “Se eu cometi erro, lógico. Se não cometi, não”, declarou.
Antes das 15h, o avião da Polícia Federal aterrissou em São Paulo. No saguão do Aeroporto de Congonhas, vítimas esperavam emocionadas. “Borracha a gente não vai passar nunca nessa história, a gente vai ficar sempre marcada, mas gente pede agora que a justiça seja feita”, disse a empresária Ivanilde Serebrenic.
Com um colete à prova de balas e escoltado pelos policiais, o ex-médico foi hostilizado durante todo o tempo. Depois de entrar no país, Roger Abdelmassih foi entregue pela Polícia Federal à Polícia Civil. E na delegacia do aeroporto foi registrado um boletim de ocorrência de captura e o ex-médico passou por exame de corpo de delito para oficializar sua prisão. Só no momento de colher as impressões digitais, Roger Abdelmassih tirou as algemas.
Durante a conversa com os policiais, o ex-médico chorou ao ser perguntado pela polícia se tem filhos, segundo o delegado Osvaldo Nico Gonçalves.
‘Bem-vindo ao inferno’
Além de anônimos, cinco representantes da associação de vítimas aguardavam desde o começo da tarde a chegada do prisioneiro. “Vim dar boas vindas ao inferno. Ele disse uma vez que ele era o Deus aqui na terra. E agora para onde ele vai é o inferno. Ele não é Deus lá não”, disse Vanuzia Leite Lopes, criadora do grupo.
As vítimas e curiosos aguardaram perto da delegacia da Polícia Civil em Congonhas. Um cordão de isolamento foi montado para deixar um corredor livre para a passagem do preso. Algumas subiram em cadeiras para ver a passagem do ex-médico e acompanhar a movimentação policial.
Abdelmassih chegou a São Paulo escoltado pela Polícia Federal desde Foz do Iguaçu, no Paraná. Ainda por volta das 16h30, ele passava por exame de corpo de delito por peritos do Instituto Médico Legal (IML) no próprio aeroporto. Depois, seguirá para o presídio de Tremembé, no interior do estado.
Condenado em 2010 a 278 anos de prisão por 48 ataques a 37 mulheres entre 1995 e 2008, o ex-médico foi preso na terça (19) no Paraguai, por agentes ligados à Secretaria Nacional de Antidrogas do governo paraguaio com apoio da Polícia Federal brasileira.
O ex-médico era considerado um dos principais especialista em reprodução humana no Brasil. Após sua condenação e fuga, passou a ser um dos criminosos mais procurados pela Polícia Civil do estado de São Paulo. Ele ficou três anos foragido. A recompensa por informações sobre seu paradeiro era de R$ 10 mil.
A Polícia Civil de São Paulo pretende interroga-lo sobre mais 26 ex-pacientes que o acusam de estupro. Além disso, a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), na capital paulista, quer ouvi-lo sobre crimes envolvendo manipulação genética irregular que ele teria cometido. Quatro pacientes relatam ter tido problemas na gestação ou má-formação dos filhos após se submeterem a tratamento na clínica que ele mantinha.
“Com a vinda dele [Roger] ao estado de São Paulo, agora irei pedir a Justiça para ouvi-lo no inquérito no qual é investigado por suspeita de mais 26 estupros consumados ou não”, disse a delegada Celi Paulino Carlota, titular da 1 DDM.
Além disso, o ex-médico é investigado por crimes previstos na Lei 11.105 de 2005 de Biosegurança. “Quatro dessas mulheres, ex-pacientes, relataram problemas. Uma teve um filho com síndrome de Edwards [que causa má-formação no coração, cabeça e pés], outra com síndrome de Down, e duas contaram sobre abortos”, afirmou Celi. “Coisas graves como abortos em série e feto que morreu e a mulher viveu meses com ele na barriga sem que o então médico quisesse retirar”, conta a delegada.
Esse é o segundo inquérito por estupro que Roger responde na DDM em São Paulo. O primeiro, que apurava também atos libidinosos, resultou na condenação dele na Justiça em 2010 a uma pena de 278 anos de prisão por 48 ataques a 37 mulheres entre 1995 e 2008. Todos os inquéritos estão sob segredo judicial para preservar a identidade das vítimas.