França foi como quase todos dali, também agricultor, depois dono de bodega e finalmente vereador na cidade de Ouro Velho. É sobrinho de Cabôclo Ferreira, primo de Joaquim Menezes e de Cabôco Ferreira .
França, tinha aquela têmpera de sertanejo feito pra durar eternamente mas teve que viajar há uns seis meses atrás, isso com mais de noventa e seis anos. Semi-analfabeto, nunca deixou sem resposta qualquer que fosse a pergunta a ele dirigida .
As suas respostas carregadas de refinado humor, ainda divertam aos que o procuravam. Proprietário de uma padaria, foi o continuador da fabricação das famosas “BOLACHAS MENÊS” que foram inventadas por uma sua tia, juntamente com uma vizinha, chamada Madalena Nunes, tia de meu pai.
As famosas “BOLACHAS MENÊS” como são chamadas vêm de uma tradição que já dura quase um século. São um produto genuinamente Ourovelhense e a sua fórmula é tão secreta quanto a da coca cola são fofas e adocicadas contendo um forte sabor de canela e cravo, ir a Ouro Velho e não provar as tradicionais bolachas Menês, é um sacrilégio tão grande quanto ir à Roma e não ver o Papa. As bolachas “Menês”, são componentes obrigatórios da bagagem de qualquer ourovelhense com destino a outros rincões do país, principalmente São Paulo e Brasília, destino fatal da maioria dos que emigram dali.
Antes mesmo do abraço e da saudação quando chega numa dessas cidades, o ourovelhense saúda o conterrâneo com um pacote de bolachas nos peitos.
Na década de cinquenta, França era proprietário de uma pequena bodega em Boi Velho, e naquela época, por não existir ainda a luz elétrica no lugar, o consumo de querosene era alto, e todo estabelecimento, tinha uma lata grande de dezoito litros, em cima de um tamborete, com uma torneirinha por onde escorria o líquido que enchia as garrafas dos fregueses.
Um dia, chegou uma pessoa procurando querosene, e França, mandou Sebastião seu filho, ainda menino, encher a garrafa do freguês.
Era dia sete de setembro e, justamente na hora em que Sebastião abriu a torneira da lata e botou a garrafa embaixo, o desfile ia passando na porta da bodega e ele correu pra ver a parada que só ocorria, uma vez por ano.
Bastião ficou lá vendo a festa e nem se lembrou do querosene, que a essa altura já tomava conta de todo o estabelecimento.
França gritou por Sebastião que finalmente lembrou-se da garrafa que havia deixado na boca da torneira.
Correu de volta, e ao entrar na bodega, já foi debaixo de pau!
– Oi pai, porque está dando em mim? Perguntou se fazendo de inocente.
E França:
– Pra você saber que dentro de uma garrafa não cabe uma lata de querosene!