Por Zelito Nunes – Nasceu no sítio Olhos D’água, hoje município de Ouro Velho no Estado da Paraíba, em 1930. Foi ajudante de caminhão, agricultor e morava com a mulher na mesma casa centenária, sem reboco e de chão batido, onde nasceu.
Chico escondia por trás do vasto bigode toda uma vida de aventuras, arruaças e histórias engraçadas. Gago e desconfiado, não fazia amizade à primeira vista. Num contato mais próximo, tornava-se aquilo que se pode chamar de “amigo de infância”, tal era o seu desprendimento e a sua lealdade.
Aos oitenta anos, o seu patrimônio era um centenário casarão com paredes de tijolos nus, uma pequena aposentadoria rural que recebia, alguns trocados que ganhava na atividade rural e um monte enorme de histórias que fizeram dele sem dúvida o sujeito mais importante daquelas plagas.
Sábio como era, se não foi pro céu, foi por que não quis. O caminho ele conhecia.
A MISSA DA CABRA
Chico tinha uma cabra ladrona que tava entrando no roçado de um sujeito lá perto dos Olhos Dágua aonde ele morava. Um dia na feira do Boi Velho o camarada encontrou-se com ele e pediu providências e Chico prometou dar um jeito.
Na outra semana , outra reclamação:
– Mas Chico, será que vai ser preciso eu ir pra polícia?
– Pode deixar Fulano, que não vai mais acontecer.
Dois dias depois o cabra encontrou Chico:
– Chico, assim não dá, você tem que dar um jeito nessa cabra!
Chico respondeu :
– Agora meu velho, a única coisa que eu posso fazer é rezar uma missa pra alma dela pois eu já matei a coitada, vendi o couro e até já comi a buchada.
Chico, que já vinha doente, passou mal e foi levado pra Monteiro. Lá o médico, depois de examiná-lo, recomendou:
– Seu Chico eu vou mandar aplicar um soro no senhor.
E Chico respondeu:
– Doutor, eu prefiro que o senhor me dê o leite ou o queijo, o soro não vai resolver meu problema não.
Melhorou e voltou pros Olhos Dágua. Dois dias foi de novo pra Monteiro.
Dessa vez, não voltou mais.
Aí, todos os olhos do lugar se encheram d’água com a sua partida.