Brasileiros e mexicanos não mereciam um empate por 0 a 0. O resultado da partida entre Brasil e México, nesta terça-feira, na Arena Castelão, em Fortaleza, pela segunda rodada do Grupo A da Copa do Mundo, foi até justo pelo que as equipes mostraram dentro de campo. Mas pelo que os torcedores fizeram na arquibancada, ir embora para casa sem a vibração ímpar de um gol talvez tenha sido uma injustiça muito grande. Os visitantes podem culpar a falta de pontaria, enquanto os anfitriões só têm um nome para apontar como culpado: Ochoa. O goleiro parou a Seleção.
As quatro defesas do mexicano em duas conclusões de Neymar, uma de Paulinho e outra de Thiago Silva foram decisivas para o placar não ser alterado. Um show à parte, à altura daquele protagonizado pelos torcedores na arquibancada da Arena Castelão.
Desde muito cedo, brasileiros e mexicanos dividiram as ruas de Fortaleza esbanjando simpatia e alegria. A capital nacional do humor ganhou esse presente. Visualmente era possível ver que havia mais brasileiros do que mexicanos entre os mais de 60 mil presentes, mas sonoramente a briga foi grito a grito.
Foi preciso até mesmo os brasileiros imitarem o xingamento de “p..” no tiro de meta adversário para igualar a briga. Olé, vaias, aplausos, músicas bem-humoradas, “sou brasileiro com muito orgulho”… Não faltou agitação no público. Uma pena que o 0 a 0 prevaleceu. Foi o primeiro tropeço de Luiz Felipe Scolari à frente da Seleção em Copas do Mundo. Nos oito jogos anteriores, contando a campanha do pentacampeonato em 2002 e a estreia na quinta-feira passada, o treinador saiu de campo com a vitória.
A Seleção volta a campo na próxima segunda-feira, enfrenta Camarões, às 17h (de Brasília), no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Independentemente do resultado entre africanos e croatas nesta terça-feira, na Arena da Amazônia, às 19h (de Brasília), o Brasil joga pelo empate na última rodada para se classificar às oitavas.
Ochoa frustra Neymar
O desafio na arquibancada já estava lançado havia tempos, desde que os portões do Castelão foram abertos. Restava saber como os jogadores se comportariam dentro de campo, tamanha a agitação dos torcedores. Destemido, o México foi para o ataque nos primeiros minutos. Foi também para cima de Neymar, caçado pelos rivais.
A iniciativa mexicana fez a Seleção, ainda lenta, buscar rapidez. Dependente das boas jogadas de Neymar ou das armadas por Oscar, o Brasil chegou com perigo aos dez minutos. O meia recebeu de Marcelo e tocou para Fred finalizar. A bola bateu na rede pelo lado de fora e enganou o auxiliar – ele chegou a correr para o meio como se sinalizasse gol, mas depois marcou impedimento.
Enquanto mexicanos e brasileiros disputavam grito a grito e hegemonia da arquibancada, dentro das quatro linhas o Brasil cresceu de produção. Mas ainda longe de levar muito perigo a Ochoa. No primeiro lance mais agudo, o goleiro mexicano protagonizou uma das defesas mais lindas da Copa até agora, após cabeçada de Neymar.
Sem Hulk, poupado por causa de um problema na coxa esquerda, Felipão iniciou com Ramires pelo lado direito do ataque. Mas o inverteu com Oscar na metade final do primeiro tempo. Ficou claro, no entanto, que faltava algo à Seleção. Monotemático, o México só arriscava de longe. Também faltava algo.
Ao menos no primeiro tempo, a criatividade dos torcedores na arquibancada não transferiu para dentro de campo o mesmo clima. Só mesmo Ochoa dava seu show à parte. Antes do intervalo, fez mais uma defesa, mais discreta, porém, decisiva também, quando salvou de joelho conclusão de Paulinho em passe de peito de Thiago Silva após cobrança de falta para a área.
Alegria se transforma em frustração
Para que a euforia da torcida se fizesse presente dentro do gramado, Felipão apostou no garoto que, segundo ele, tem “alegria nas pernas”. Bernard entrou na vaga de Ramires no intervalo. Logo em seu primeiro lance, o atacante fez a massa verde-amarela se levantar. Mas sua arrancada, seguida de cruzamento para Neymar, não deu certo.
Não deu certo também a tentativa do Brasil de pressionar o México. Pelo contrário. Foi o time adversário que empurrou a Seleção para o campo de defesa. Mesmo que com sua única jogada de perigo (o chute de fora da área), os mexicanos fizeram Felipão parar com os braços cruzados na área técnica e olhar de reprovação ao time.
Foi preciso uma cobrança de falta para dar fôlego novamente ao Brasil. Aos 17 minutos, depois de incômoda pressão mexicana, Neymar bateu colocado, assustando Ochoa. Era preciso mais. Felipão, então, resolveu mudar o centroavante: saiu Fred para a entrada de Jô. Aplausos e vaias se misturaram na saída do camisa 9.
Na base da correria, a Seleção continuou tentando. Mas parou em Ochoa. De novo. O goleiro mexicano defendeu outro chute de Neymar e frustrou a torcida cearense. Em seguida, sozinho diante do camisa 1, Jô se precipitou ao receber de Bernard livre dentro da área e concluiu torto.
Felipão fez a última substituição, trocando Oscar por Willian. Mas do outro lado Ochoa continuava em campo, parando a Seleção. Aos 40, o goleiro buscou outra cabeçada certeira, de Thiago Silva, em cobrança de falta pela ponta de Neymar.
E os mexicanos ainda assustaram a torcida brasileira duas vezes antes do apito final, em chutes cruzados de Guardado e Jiménez. Mas Julio César também apareceu bem.