O empresário preso por suspeita de aplicar um golpe financeiro a partir do cultivo de hortaliças atraía investidores alegando ter uma ‘invenção mágica’ que aceleraria a forma como se produz na hidroponia. A informação foi relatada a reportagem por uma pessoa que investiu na empresa Hort Agrest. De acordo com a investigação, a ação de Jucélio Pereira de Lacerda pode ter gerado um prejuízo de mais de R$ 120 milhões nos últimos dois anos.
O investidor, que preferiu não se identificar, disse que o empresário prometia, além dos ganhos acima da realidade do mercado, a aplicação de uma descoberta de uma solução nutritiva inovadora que aumentaria a produtividade de forma bem mais rápida que o comum. A vítima investiu ao todo R$ 308 mil na empresa de Jucélio.
O empresário Jucélio Pereira é formado em química pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e, de acordo com a vítima, ele utilizava a formação para convencer as pessoas que tinha conhecimentos inovadores que poderiam aumentar a produção de hortaliças, tomates e outros vegetais.
“Jucélio é formado em química. Com isso, ele alegava que tinha descoberto uma forma de balanceamento químico para nutrir essas plantas de forma a ter resultados muito mais rápidos que outros produtores, que com isso ele conseguia acelerar o sistema produtivo e que por essa razão o lucro ele pagaria de forma tranquila”, relatou o investidor.
A Hort Agreste, empresa administrada por Jucélio, tinha como principal foco um sistema onde as plantas são cultivadas de forma elevada, sem contato com o solo, em bancada suspensa, recebendo sofisticado sistema de irrigação e com nutrição química. Esse processo é conhecido como hidroponia.
Segundo a vítima, era justamente no aspecto da nutrição química que Jucélio tentava convencer potenciais investidores, garantindo que a “descoberta química” garantiria o retorno financeiro prometido aos investidores.
“De fato ele (Jucélio) aparentava ter muito conhecimento sobre a hidroponia, da nutrição química da planta. Ele tinha todos os dados. Ele manipulava bem esses dados, fazendo cálculos na nossa frente, dos insumos, do custo para produção de cada bancada, ele conseguia facilmente enganar qualquer pessoa, porque tinha todo o domínio dos dados. Só que não sabíamos que aquilo era falso”, contou.
A vítima explica que essa dita invenção forneceria uma produtividade fora do comum para a Hort Agreste.
“A invenção mágica era a seguinte, ele afirmava ter conseguido uma fórmula de nutrição das plantas, que acelerava o processo produtivo. Ele afirmava que conseguia colher um pé de alface, por exemplo em 17 dias, enquanto outros produtores levavam 35 a 40 dias”, contou.
A reportagem teve acesso ao contrato firmado entre a vítima e a Hort Agreste, além do Boletim de Ocorrência feito pela pessoa junto a Polícia Civil sobre os crimes que cometidos.
Nos documentos, o investimento de R$ 308 mil feito pela vítima foi pago de duas maneiras: à vista, por meio de transferência bancária, e pelo cartão de crédito, parcelado em várias vezes.
Inicialmente, o investidor aportou R$ 14 mil, no dia 6 de março, para construção de bancada hidropônica de pepino. Em contrapartida, por esse investimento, ele passou a receber R$ 1.000,00 por mês, o que corresponde a pouco mais de 7% do capital investido inicialmente.
Entre março e setembro do ano passado, outros investimentos foram feitos pela vítima, para produção de 30 bancadas de pepino e 28 bancadas de tomate. Durante esse período, foram realizadas cinco transferências bancárias, no período de março/2023 a junho/2023, totalizando R$ 118 mil.
Pelo cartão de crédito, o investidor fez nove compras junto a Hort Agreste, que totalizaram R$ 190 mil. Os pagamentos dos rendimentos de 10% prometidos nas bancadas foram feitos até 11 de novembro de 2023 e posteriormente os valores devidos não foram depositados pela empresa de Jucélio Pereira.
Por conta da suspensão dos pagamentos, a vítima relatou que não vai conseguir pagar as parcelas dos próprios investimentos parcelados no cartão.
Sobre a forma como conheceu a Hort Agreste, o investidor ouvido pelo g1 disse que a ação de Jucélio “não parecia um esquema de pirâmide”, por diversos fatores. A Polícia Civil investiga o caso como estelionato qualificado e formação de quadrilha.
“Eram amigos que indicavam outros amigos, mas ninguém que indicava ganhava alguma coisa pela entrada de novos investidores. Por isso que não parecia pirâmide, porque tinha um produto, uma estrutura, os sítios são reais, as estufas são reais, tudo bem montado. Só que essa estrutura não paga um rendimento tão alto de 10%, nunca se comprovou isso”, disse a vítima.
O investidor conta que devido às promessas de altos lucros e a estrutura que a empresa apresentava, chegou a fazer vários empréstimos com bancos para conseguir aportar mais dinheiro na Hort Agreste. O que, segundo ele, vai fazer com que perca o carro, por não conseguir pagar os valores do financiamento, dado o tamanho das dívidas.
“Eu fiz empréstimos. Só um empréstimo que fiz foi de R$ 85 mil. Peguei meu carro, no valor de R$ 40 mil, coloquei ele como garantia para outro empréstimo no mesmo valor. Vou perder o carro, porque não consigo pagar as parcelas. O banco vai acabar entrando com busca e apreensão, porque não tenho condições de pagar. Eu investi o que tinha e o que não tinha, agora vou ficar sem carro, vou ficar devendo o cartão de crédito. Foi uma pancada gigantesca”, disse.
Com G1-PB