Um grupo de diálogo com psicólogas criado no Hospital Municipal de Campina Grande Pedro I tem ajudado as mães de bebês com microcefalia da Paraíba na luta diária para cuidar de seus filhos. O hospital é referência para outras cidades do estado e atualmente acompanha 22 mães. Devido à falta de antedimento especializado em 98,6% dos municípios paraibanos, muitas mulheres precisam viajar até centenas de quilômetros em busca de cuidados para seus filhos.
Josemary Gomes, de 30 anos, é um desses exemplos, e a vida dela não tem sido fácil. Ela é mãe de cinco filho e o mais novo, Gilberto, nasceu há quatro meses com microcefalia. Josemary mora no município de Algodão de Jandaíra, no Brejo da Paraíba, e a cidade de 2,4 mil habitantes não tem estrutura para atender às necessidades de Gilberto. Ela tem que enfrentar uma maratona até Campina Grandeviagem longa e cansativa, onde mãe e filho viajam durante uma hora em um carro cedido pela prefeitura. O bebê vai no colo da mãe, apertado com outros pacientes.
“Só Deus sabe como é o dia a dia com meu filho, pra eu sair uma hora dessa, acordar cedo e levar meu filho para escola, ir buscar e sempre com Gilberto no braço”, conta. Josemary é uma das primeiras a chegar no Hospital Municipal de Campina Grande Pedro I e no corredor ela se une a outras mães com histórias parecidas.
Miriam de França Araújo também enfrenta uma rotina difícil. Ela sai ainda de madrugada da cidade de São José dos Cordeiros, no Cariri da Paraíba, e enfrenta duas horas de viagem até Campina Grande. Ela faz tudo isso sozinha, com o pequeno Lucas no braço, pois o marido dela trabalha e não tem como acompanhá-la.
“Ele mora com os pais, trabalha de segunda a sexta-feira e não pode estar aqui comigo. A carga toda vem pra cima de mim. No começo eu fiquei desesperada por morar na casa dos meus pais, por ter uma filha já, por ser nova e não ter emprego, como eu podia criar assim uma criança especial?”, frisou Miriam.
Uma vez por semana, Josemary, Miriam e outras mães têm a oportunidade de conversar em um grupo coordenado por uma psicóloga. No local, elas podem desabafar e contar tudo o que estão passando. A psicóloga Jaqueline Loureiro, que acompanha as mães, conta que existem casos em que mulheres são abandonadas pelos companheiros assim que é dado o diagnóstico de microcefalia.
“Algumas são abandonadas ainda na gestação, outras são abandonadas quando já estão criando as crianças e outras não recebem o suporte devido. [Eles] dizem ser presentes, mas não dão suporte financeiro e emocional”, destacou a psicóloga.
No Hospital Pedro I, referência para estes tipos de casos, 22 mulheres são acompanhadas em consultas individuais e em grupo. “A gente trabalha dois eixos terapêuticos. O eixo para as questões emocionais, aquilo que elas vivem no dia a dia e o eixo informativo que a gente convida profissionais para dar informações sobre microcefalia”, frisou.