HISTÓRIAS DA MINHA MÃE

Por Ramalho Leite

Passou o dia das mães e não ouvi o apelo comercial. Deixei passar em branco, até por que, sempre dizia à minha: dia da mães é todo dia.Mas como tive inveja de quem, naquele dia, estava batendo perna pelas lojas em busca de uma lembrancinha para sua mãe. Meu vizinho aqui do lado, Carlos Pereira, não esqueceu de escrever sobre a data. Hoje me bateu uma saudade danada e resolvi lembrar algumas historias da minha mãe. Aliás, só depois que ela se foi, fiquei definitivamente velho: não tenho mais quem me chame de menino…

Na solenidade de comemoração dos cem anos de nascimento de Aloísio Campos, me lembrei dela quando contaram a história do incidente que o envolveu e resultou na perda da sua visão pelo olho direito. Aloísio tinha um olho de vidro que olhava constantemente para a direita e para o alto. Na sua segunda candidatura ao Senado, tinha Clovis Bezerra como primeiro suplente de sua chapa. Foi informado que eu poderia não votar nele, pois à época era adversário de Clovis. Partiu para Bananeiras em busca do meu apoio. Não me encontrando em casa, pediu papel e lápis à minha mãe e escreveu um bilhete pedindo minha solidariedade à sua candidatura, que aliás, eu nunca negara. Minha mãe nunca tinha visto Aloísio e nem sabia que ele tinha um olho de vidro. Me entregou o bilhete, mas comentou:

– Meu filho, parece que aquele homem é doido… Enquanto escrevia, ao invés de olhar para o papel, ele olhava era prá de mim….

Na minha casa eu tinha uma farmácia improvisada para atender aos carentes e, duas irmãs médicas, receitavam os eleitores. Minha mãe ficava em casa e assistia às consultas, muitas vezes se aventurando a passar alguns remédios mais simples. Chicão, morador de suas terras lá em Poço Escuro, chegou dizendo que sua mulher Jandira estava enferma: uma dor de barriga que não passava nunca. Mamãe vasculhou a farmácia e lhe deu uma caixa com três supositórios de glicerina e indagou:

– Você sabe aplicar Chicão? Sei simsinhora! Respondeu e foi embora. Uma semana depois retorna Chicão, e minha mãe indaga se Jandira tomou os remédios e melhorou.
– Os cumprimido que a sinhora deu, foi um milagre. Tá boinha. O primeiro, ela ainda ripunou um pouco, mas do segundo em diante, ela engoliu faci, faci… (Soube há poucos dias que Chicão faleceu, depois de muitos anos conservado no álcool…)
Quem chegasse na casa da minha mãe em Bananeiras ia logo entrando. A porta da frente nem trinco tinha, desmantelado pelo uso constante. Se fosse no período da tarde, encontraria minha mãe deitada em um sofá, de frente à TV que ela pouco via. Adormecia ligeiro. Uma amiga da zona rural foi entrando e perguntando:

– Tá doente dona Eurides? Ela respondeu que era apenas uma pequena dor de cabeça. A visitante não se fez de rogada e indicou um santo remédio:

– Oi dona Eurides, eu tava assim e me deram uma pilinha, uma pilinha bem pequenininha, chamada cum pri mi do. Foi tomar e ficar boa na hora…

Eu iria longe contando mais histórias. Encerro com a visita que lhe fez Antonio Mariz, levando Ulisses Guimarães à tiracolo. Ao sentar na sala de dona Eurídice, Ulisses apoiou-se no braço da poltrona e este caiu com grande estardalhaço. Vendo a aflição de minha mãe, o velho Ulisses foi em seu socorro:

– Se preocupe não, madame…Casa de político é assim mesmo!

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode gostar