Por Zelito Nunes
UMA PASSADA POR SÃO JOSÉ DO EGITO – Quem chega no Checo’s Bar, em São José, pode até sair liso, mas com fome jamais. A sua cozinha é um primor, o seu cardápio o mais variado e a sua frigideira “multi-uso” atenderia aos mais rigorosos padrões dos mais renomados “chefs” franceses. E com um sem número de pratos (tira-gostos para os mais íntimos).
Ficamos a imaginar, um deses cozinheiros estrangeiros acompanhando a fritura de um preá, uma passarinha, um fígado de alemão, rolinha, piaba, a gota serena, na frigideira do velho Checo’s, que não tem o hábito de trocar o óleo jamais.
“O segredo está na mistura de sabores das iguarias” sentencia o grande “gourmet”, da nobre cozinha pajeuzense.
O cheiro das frituras de Checo atrai os narizes mais requintados da cidade e o preá frito na sua panela, é um dos pratos mais caros . No Checo’s, tudo vira comida. Dizem que outro dia passou por lá um bebinho “em fim de linha” procurando um tira-gosto, “qualquer coisa que dê pra mastigar”.
Qualquer coisa pra essses bebinhos, é qualquer coisa mesmo, com exceção de dois bichos que por uma questão de ética não comem de jeito nenhum “do chão cururu e dos ares urubu”, o resto eles traçam .
– Checo, uma lapada de cana e um tira-gosto, pode ser qualquer coisa – pediu outro dia um bebinho que por ali passava, levado mais pelo vento do que pelas suas canelas.
O dono do estabelecimento sem querer atender ao bebinho, foi implacável :
– Tem mais nada não fulano, comeram tudo!
– Mas não é possível, eu não subi esta ladeira pra perder minha viagem não. Eu só saio daqui quando tomar uma e comer qualquer coisa. Ou bota ou eu não vou mimbora daqui e ainda fico perturbando; pode ir logo chamando a polícia que é um bichinho que eu não tenho medo de jeito nenhum!
Checo, pra evitar escândalos no seu estabelecimento, propôs ao cliente :
– Olha, agora de tiragosto eu só tenho mesmo o pano de café passado no óleo, é pegar ou largar.
No interior ainda se cultiva o hábito de coar o café num saquinho de flanela que é segurado por duas varetinhas de marmeleiro, que servem de cabos evitando que as pessoas se queimem quando do preparo da nossa bebida mais nobre. Com o tempo, esses saquinhos, por mais esvaziados que sejam, vão acumulando resíduo e ficando cada vez mais volumosos adquirindo uma aparência de carne ou coisa parecida.
O bebinho topou na hora. Checo tirou as varetinhas, colocou aquele troço na frigideira, com sal, vinagre e ainda cortou uma cebola de agrado.
O desgraçado comeu, bebeu a cachaça, pagou e desapareceu ladeira a baixo, alegre e feliz desafiando a lei da gravidade.
*
Dia desses estavam no Checo’s Décio com Ronaldo Piquinha e Antonio de Catarina, comemorando o aniversário do nosso confrade Lalá. Conversa vai, conversa vem, a fumaça da cozinha inundando todo o ambiente, Décio chamou o proprietário num canto do bar e lhe fez preocupado uma observação:
– Checo, eu tô vendo a hora dessa tua panela “bater” o motor!
– Tais ficando doido, Décio, por que ?
– Porque eu já ando aqui há muito tempo e nunca vi tu trocando o óleo dela!