HOJE É O DIA DO POETA

Por Nelson Tôrres

Hoje é um dia especial: é o dia do Poeta. Não há lei, ainda, que dedique esse dia ao poeta, mas já virou tradição comemorá-lo no dia 20 de outubro, em razão do surgimento do “MOVIMENTO POÉTICO NACIONAL”, capitaneado pelo advogado e romancista Paulo Menotti Del Picchia.

O que existe, oficialmente, é o “Dia Nacional da Poesia”, oficializado pela Lei Federal nº. 13.131/2015, este comemorado no dia 31 de Outubro, em homenagem ao nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade.

Aqui, em plagas paraibanas, o dia é ainda mais especial porque temos inúmeros e grandes poetas de fama nacional e internacional, como Augusto dos Anjos, Pinto de Monteiro, Ariano Suassuna, Zé da Luz, Raimundo Asfora, dentre muitos outros.

Em homenagem aos poetas paraibanos, relembro, portanto, um verso de outro grande poeta, RONALDO CUNHA LIMA, advogado e político, falecido em 2012. Ronaldo foi acionado por um amigo que por sua vez foi enquadrado como “perturbação do sossego público”, por estar fazendo uma serenata com uma turma de amigos na noite de Campina Grande, PB. O seresteiro pagou a fiança, mas o delegado não liberou o violão, porque o anexou ao inquérito como “instrumento do crime”.

Ronaldo, como advogado, na tentativa de liberar o “instrumento do crime”, foi conversar com o então Juiz titular, Dr. Arthur Moura, futuro Presidente do Tribunal de Justiça, homem de grande sensibilidade, que assim respondeu ao advogado poeta:

” – Olha, Ronaldo, o advogado é poeta, o réu é boêmio, o instrumento do crime é um violão…isso dá verso!”

Dado o mote, Ronaldo Cunha Lima redigiu o “Habeas Pinho”:

O instrumento do “crime”que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver nem pistola,
É simplesmente, Doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade
Não matou e nem feriu um cidadão
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Inexiste entre ambos afinidade.

O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.

O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.

Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão

Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.

Libere o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?

Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.

Por sua vez, despachou o Juiz Arthur Moura também em verso:

Para que eu não carregue remorso no coração,
determine que se entregue ao seu dono o violão.

Histórias como essa engrandecem ainda mais essa nobre arte. Parabéns, portanto, a todos os poetas pelo seu dia!

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