Por Zizo Mamede
1. No Brasil há mais de 500 mil prisioneiros, a quarta maior população carcerária do mundo, mas a fração mais autoritária da sociedade acha que é preciso prender mais e mais e que o problema da violência do Brasil é a impunidade generalizada; confunde-se a impunidade da minoria endinheirada que tem como custear os melhores advogados para evitar a Justiça, com a desgraça dos ladrões de galinha, que mofam nas masmorras.
2. No Brasil de maioria mestiça afro-descendente, a discriminação racial é flagrante nos recortes de escolaridade, nas condições de habitabilidade, no mapa da violência, nas funções laborais e nos níveis de renda, no acesso aos serviços públicos, mas há uma reação aberta ou dissimulada contra as políticas afirmativas para corrigir as distorções históricas.
3. No Brasil, existe corrupção e “corrupção”: as maiores corrupções são a sangria dos recursos públicos via dívida pública interna, seguida da sonegação tributária. A soma dessas modalidades de corrupção do dinheiro público chegará à cifra de 1 trilhão de reais só no ano de 2014, ou seja, um valor 10 vezes maior do que o dinheiro público que será surrupiado pelos corruptos de colarinho branco.
4. No Brasil, como em qualquer lugar do mundo, corrupção é um crime cometido sempre em benefício de interesses privados, mas a elite criou uma sinonímia entre corrupção e Estado, corrupção e serviços públicos, logicamente para fragilizar a política e o Estado e fortalecer a religião do mercado.
5. No Brasil, os economistas alinhados com o pensamento liberal só sabem falar dos índices do PIB, sem falar dos índices de emprego e desemprego, como se a economia fosse um fim em si mesma, medida em planilhas cartesianas, descoladas da vida do povo, sem relação alguma com os índices de progresso social.
6. No Brasil, a elite econômica, bastante incomodada com a recente distribuição de renda do país, começa a botar as unhas de fora contra a política de reajuste do salário mínimo e de valorização dos salários em geral, sob o argumento de que gera inflação; a elite quer arrocho salarial para combater a falácia do descontrole dos preços da economia.
7. No Brasil, os velhos formadores da opinião pública defendem cotidianamente a redução da alta taxa tributária do país, ao mesmo tempo em que exigem mais e melhores serviços públicos, além de expansão das obras de infraestrutura. Ou seja, propõem o aumento das despesas públicas e a redução das receitas, cobram mais do Estado e querem Estado mínimo.
8. No Brasil, a elite liberal, pari passu com a elite liberal estrangeira, fala mal do Estado e acusa o governo de intervencionismo econômico, mas sempre cobra do Estado a solução e os encargos para as crises criadas pela especulação econômica e financeira que concentra riquezas nas mãos de uma minoria; a elite privatiza a riqueza e socializa a crise.
9. No Brasil existe uma das maiores concentrações da propriedade privada dos meios de comunicação de massa no mundo, mas sempre que se fala em reformas para desconcentrar a grande mídia ou pelo menos regulamentar essa atividade, como ocorre em qualquer país minimamente democrático, a mídia oligopolizada acusa que há riscos eminentes de censura e de perigos para a democracia.
10. No Brasil, as grandes empresas de comunicação, que também são concessões públicas, que já apoiaram descaradamente os golpes contra a democracia brasileira, de forma subliminar ou escancarada tomam partido nas disputas políticas nacionais logicamente apoiando as forças conservadoras, mas posam de éticas e de imparciais.
Em tempo: Em resumo, cantando aqui a cantilena dos acometidos pelo velho complexo de vira-latas, diríamos “Isto é Brasil!” – Mas, bem entendido, o Brasil não é só isto!