A força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo acusou formalmente nesta sexta-feira o senador José Serra (PSDB-SP) e a sua filha, Verônica, de lavagem de dinheiro e apresentou denúncia à Justiça contra eles. Paralelamente, a Polícia Federal deflagrou operações de busca e apreensão em endereços relacionados ao ex-governador de São Paulo. A casa do tucano foi um dos alvos.
Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal, entre 2006 e 2007 Serra valeu-se de seu cargo e de sua influência política para receber da Odebrecht pagamentos indevidos em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul. Milhões de reais teriam sido pagos pela empreiteira por meio de uma sofisticada rede de offshores no exterior, para que o real beneficiário dos valores não fosse detectado.
“José Serra e Verônica Allende Serra, entre 2006 e, ao menos, 2014, ocultaram e dissimularam, por meio de numerosas operações bancárias, a natureza, a origem, a localização e a propriedade de valores sabidamente provenientes de crimes, notadamente de corrupção passiva e ativa, de fraudes à licitação e de cartel, praticando, assim, atos de lavagem de capitais tipificados”, afirma trecho da denúncia.
O documento ainda afirma que, durante o período em que foi prefeito da capital paulista e governador do estado (2005-2010), Serra manteve uma “relação espúria” com a Odebrecht, “dela solicitando, e dela vindo a efetivamente receber, direta e indiretamente, em razão das funções por ele ocupadas, substanciais recursos indevidos”.
Ainda de acordo com as investigações, o empresário José Amaro Pinto Ramos e Verônica Serra constituíram empresas no exterior, ocultando seus nomes, e por meio dessas empresas receberam os pagamentos que a Odebrecht destinou ao então governador de São Paulo.
Foram encontradas, segundo a denúncia, numerosas transferências para dissimular a origem dos valores. O dinheiro permaneceu em uma conta de offshore controlada, de maneira oculta, por Verônica Serra até o final de 2014, quando foram transferidos para outra conta de titularidade oculta, na Suíça.
A força-tarefa da Lava-Jato informou que as provas colhidas até o momento levaram o MPF a pedir na Justiça o bloqueio de R$ 40 milhões em uma conta na Suíça.
Para obter mais elementos para aprofundar as investigações em relação ao esquema, a força-tarefa conseguiu autorização judicial para realizar busca a apreensão em oito endereços em São Paulo e no Rio. A casa onde Serra vive, no bairro do Alto de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, foi um dos alvos da operação batizada de Revoada. Apesar de estar separado, o senador dividia o imóvel com a ex-mulher Mônica.
Um apartamento do empresário e ex-deputado Ronaldo Cezar Coelho, no bairro da Vila Nova Conceição, na Zona Sul de São Paulo, também foi alvo. O advogado de Coelho, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, confirmou a operação, mas disse não saber se há relação com o caso de Serra. Ele afirmou que os policiais nada levaram, apenas verificaram o computador e estariam atrás de dois quadros. O empresário não estava no apartamento.
A operação ocorre num momento de conflito entre a Procuradoria Geral da República e a Lava-Jato do Paraná. Apesar de atuação independente, o braço paulista se valeu de apurações iniciadas no Paraná. “Em um momento de incertezas, a força-tarefa Lava Jato de São Paulo reafirma seu compromisso com um trabalho técnico, isento e sereno. As investigações seguem em sigilo”, diz a nota divulgada pela Lava-Jato de São Paulo.
Alvo de acusações em delações premiadas de executivos da Odebrecht, Serra sempre negou as acusações.