Um recado atribuído ao ministro Defesa, general Braga Neto, chegou ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), no último dia 8: não haverá eleições no Brasil sem o voto impresso. O aviso foi recebido em tom de ameaça pelo congressista que procurou o presidente Jair Bolsonaro para conversar sobre o assunto. As informações são do Estadão.
O próprio presidente, contudo, já havia repetido a ameaça no mesmo dia: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disse o gestor. Ao dar o aviso no Congresso, o ministro Braga Neto estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Ainda segundo o jornal, a portas fechadas, Lira disse a um seleto grupo que via aquele momento com muita preocupação porque a situação era “gravíssima”. O presidente da Câmara procurou Bolsonaro e teve uma longa conversa com ele, no Palácio da Alvorada. De acordo com relatos obtidos pelo Estadão, o presidente da Câmara disse ao chefe do Executivo que não contasse com ele para qualquer ato de ruptura institucional. Líder do Centrão, bloco que dá sustentação ao governo no Congresso, Lira assegurou que iria com Bolsonaro até o fim, com ou sem crise política, mesmo se fosse para perder a eleição, mas não admitiria golpe.
Bolsonaro teria respondido que nunca havia defendido um golpe. Afirmou, ainda, que respeitava “as quatro linhas da Constituição”, como sempre costuma dizer em público. Lira rebateu, observou que o emissário havia sido muito claro ao dar o alerta e avisou o presidente de que a Câmara não embarcaria em nada que significasse rompimento com a democracia.
Contudo, diante da possibilidade de o Congresso rejeitar a proposta de emenda à Constituição que prevê o voto impresso – ainda hoje em tramitação numa Comissão Especial da Câmara –, Bolsonaro vem subindo cada vez mais o tom em declarações a apoiadores e em suas lives nas redes sociais.
O assunto já é de conhecimento de um restrito grupo da política e do Judiciário que tem mostrado preocupação com as ameaças. O Estadão informou que vem procurando o Ministério da Defesa para comentar o assunto, mas não obteve respostas para os questionamentos.