Por Simorion Matos
O carnaval monteirense, em tempos passados, foi vivenciado por grandes figuras que animavam os dias do Reinado de Momo.
A “Banda Muda”, que percorreu as ruas da cidade, formada por “músicos” que não tocavam nada, dentre eles Argemiro e Manoel Titi.
A jovem Sambacana e as batalhas de confete e serpentina do Aero Club, retratadas na crônica poética de Jansen Filho.
Os estrondosos bailes do Clube Municipal animados pela Orquestra Marajoara de Sertânia, Orquestra Sumense de Frevos do Maestro Tonheira e Orquestra Monteirense de Frevos do Maestro Tão. Os bailes populares do Salão de Seba Bité na Rua da Várzea e de João Benedito na Rua do Matadouro.
Os porres de lança perfume Rodoro capitaneados por Expedito Pascoal, Sevy Falcão, Humberto Galdino e Ferreirinha.
O Zorro solitário interpretado por Luiz do Roicouro e o índio tabajara incorporado pelo camelô Veinho. O boi de Carretão e o Aero Willys de Geraldo Branquinho, Inácio do Banco do Brasil, Romão, Didi e Olímpio de Abelardo.
Raimundo Sabiá, vindo de Sumé, frevando com uma vela acesa na careca.
No carnaval dos anos 70, nas ruas de Monteiro se ouvia o batuque da escola de samba que tinha a juventude de Pinduca, Dema de Mariano, Boy de Doutor Jaime e Tatá Morato. Isto, sem esquecer o corso nos anos 40.
Tudo isso e muito mais aconteceu no carnaval monteirense. Porém, a figura mais folclórica dos inesquecíveis carnavais da Princesa do Cariri era o insuperável Cícero Moreira da Silva, o velho Cícero do Norte. Todos os anos, saía com o seu bloco, puxado por sanfona, zabumba e triângulo. A cada ano o bloco apresentava um tema e mudava o estandarte.
O próprio Cícero compunha as músicas, bem irreverentes. Uma delas, TIRA QUE TÁ DOENDO, tinha os versos: “Tira que tá doendo, o sapato de José, ele está muito apertado e apertado desse jeito não dá pé”.
Numa das últimas vezes em que participou com o seu bloco, já meio cansado de tantas guerras, Cícero do Norte saiu trajando roupa de baiana, com enormes brincos, rouge, batom boka loka e balagandans. No estandarte, estava escrito: O CACHORRO LAMBEU SUA BOCA E QUEM FOR CORNO ME ACOMPANHE.
Em pleno domingo de carnaval, por volta das 9 da manhã, chegava Cícero do Norte com sua troça no bar de Adjar, ao lado da Praça João Pessoa. O cortejo tinha apenas 6 pessoas, já incluídos os 3 da orquestra.
Vendo tão pouca gente no bloco e observando o chamamento escrito no estandarte, Pinincha (o dono da sinuca), já puxando fogo, perguntou:
– Ou Ciço, em Monteiro só tem essa meia dúzia de cornos?
O leão do norte tomou uma bicada de Pitu, balançou a cabeça, pensou e respondeu, abusado:
– Tem muito mais do que isso. É porque os outros ainda estão dormindo.