A cidade de Monteiro, no interior paraibano, virou palco da moda internacional. Digo assim por conta da renda renascença, produzida naquele município, a exemplo da cidade de Bruges na Bélgica. Este tipo de renda originou-se na Itália no final do séc. XV e se espalhou pelo mundo. É considerada artigo de luxo na Europa.
Surgiu entre os séculos XV e XVI, consagrando-se como símbolo do artesanato italiano. Teve esse nome para referenciar o momento histórico do Renascimento, período em que se deu a sua maior difusão. Na época, merecia destaque Henrique II, rei da França que usava em seus trajes composição da renda em colarinhos, o que lhe fornecia um charme todo especial, chamando atenção pela elegância, o que a fazia ser adotada pela realeza e divulgada em toda a Europa. No Brasil, a renda renascença surgiu no século XIX, através das mulheres colonizadoras e das religiosas europeias que ocuparam o Convento de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Mantida em sigilo até 1930, a partir desta década chegou ao conhecimento das mulheres mais humildes tornando-se patrimônio cultural local para o Brasil e para o mundo. Aportou no Nordeste, em particular na Paraíba, na década de 1950, concentrando-se no Cariri Paraibano, região composta dos municípios Monteiro, Camalaú, São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro, Zabelê, Prata, Sumé e Congo, onde existem mais de 3000 rendeiras organizadas em associações.
A renda renascença é uma atividade familiar passada de geração a geração. Cada artesã emprega atributos específicos de sua criatividade, impulsionados pela delicadeza, paciência e destreza como manuseia a agulha, linha e lacê de algodão, uma vez que essa peculiaridade irá identificar a qualidade da renda local, além de outras linhas e papéis que se acrescentam à renda que só lá possui traços marcantes e entrelaçados perfeitos, que imprimem excelência de qualidade.
Por trás de cada peça produzida existe uma história de vida, de sacrifícios, de luta, abandono e desamor, pois muitas das artesãs entraram para essa atividade impostas pela situação em que se encontravam. Foram abandonadas pelos amores de suas vidas, que as deixaram em busca de tentar outra sorte no Sul do país e nunca mais voltaram, ficando como herança a solidão e três ou quatro filhos. Recorreram ao artesanato. Fazer renda como opção única foi o que lhes restou, entrevendo na confecção uma garantia de sobrevivência e conquistas. Como diz o governador João Azevedo: “razão de existência”. Cada peça é construída com gosto amargo da saudade e do sofrimento, chegando o renomado estilista Ronaldo Fraga a dizer: “vejo em cada peça o sentimento de melancolia”. Expressou-se assim, porque conheceu e conviveu de perto com as artesãs e pode compartilhar de sua dor. Hoje esta situação é coisa do passado, adquiriram a auto estima, a dignidade e a cidadania que as deixam muito felizes e realizadas.
O governador João Azevedo e sua esposa Ana Maria, Presidente de Honra do Programa do Artesanato Paraibano, têm dado todo apoio não medindo esforços para incentivar e proporcionar condições as artesãs de poderem desenvolver suas atividades de criação, confecção e comercialização. Para viabilizar esse propósito criou um espaço de preservação da tipologia, desenvolvimento cultural, turístico e econômico, beneficiando três mil rendeiras, numa iniciativa compartilhada do Governo do Estado, Prefeitura de Monteiro, através da prefeita Anna Lorena e do SEBRAE, seu superintendente Walter Aguiar e do diretor técnico Luís Alberto Amorim, do Coordenador do PROCASE, Aristeu Chaves e o empenho da Coordenadora do Programa de Artesanato, Marielza Rodriguez Araújo, e sua equipe, com destaque para Fábio Morais , Haendel Melo e Cristiane Leal. Este feito vem fortalecer a cadeia produtiva da renda renascença, os grupos no sentido de estarem unidos, a comercialização, além de oferecer emprego e rendimento. Essa atividade ocorre no principal polo da renda renascença, símbolo do Cariri paraibano, a cidade Monteiro, onde foi criado o Centro de Referência da Renda Renascença e do Artesanato (CRENÇA), inaugurado dia 25 de novembro de 2021, situado bem no centro da cidade num belíssimo prédio histórico. Nesse local as artesãs vão expor e vender sua produção. Isso era um sonho acalentado há muitos anos pelas rendeiras da região e que se torna realidade. Além de preservar o patrimônio histórico, o prédio restaurado oferece oportunidade dessa atividade ser perpetuada, uma vez que representa um conjunto de valores da época de seus ancestrais: os costumes, as crenças e a cultura do Cariri paraibano. A renascença está sendo exportada para vários países, assegurando as condições de comércio e mercado com receita e emprego garantido.
O governador, na inauguração, assim se expressou; “A partir de agora teremos a renda renascença como ponto de referência para a região e nós sabemos o que daqui pode surgir e o que daqui pode avançar “. Com essa expressão o Governador sabe a dimensão imensurável que o empreendimento pode alcançar na vida das pessoas e fazer a diferença na dimensão social, política, cultural, econômica e turística da região.
O ponto alto do evento foi a promoção de um desfile em grande estilo, como acontece nas Maisons da moda “La Prairie “de Charles Frederick Worth, considerado pai da alta costura e figura fundadora da moda como indústria e arte, inglês de nascimento, mas que se fixou em Paris. Maison Delorée, Coco Chanel, Christian Dior, Yves Saint Laurent. No Brasil, como estilista genuinamente brasileira surgiu Zuzu Angel, iniciando suas atividades na década de 1950. Incorporou ao seu estilo componente político de protesto como a forma de criticar a ditadura de 1964, pois era a forma de evidenciar e reivindicar seu filho desaparecido. Atingiu notoriedade internacional e sua roupa foi vendida nas grandes casas além fronteiras do Brasil, falecida em 1976. Temos ainda Alexandre Herchcovitch, paulista, entre outros. Merece realce Ivana Neves e Ronaldo Fraga, dupla mineira. Ele realiza um trabalho de consultoria de orientação junto às rendeiras, com apoio do governo, fazendo uma simbiose perfeita entre a arte do artista plástico Flávio Tavares e sua criatividade. Resgata, através do bordado, todo universo cultural da região, confeccionando as peças que se convertem em verdadeiras obras primas de valor imensurável, nas mãos daquelas rendeiras que tem a propriedade de materializar o conceito, o sentido e o pensamento criativo inovador em forma de costura dos dois gênios Flávio e Ronaldo.
No desfile que abrilhantou a instalação do CRENÇA, quem o assistiu ficou extasiado pelo nível da apresentação, acompanhado de fundo musical, na voz da cantora local Sandra Belê, que deu ainda mais sentido ao clima cultural executando os clássicos nordestinos e as canções populares. A exibição de moda foi realizada a altura de qualquer Maison existente no mundo, com a participação de 22 manequins nacionais, pelo seu ineditismo e o descortinar através dos modelos o retrato daquela região árida de clima seco, vegetação rasteira, formação rochosa, cheia de mistérios, mas que agrega valores, costumes e belezas naturais em forma de vales, serras, plantas e animais, além do principal componente, um povo forte e hospitaleiro.
Vejam, quando o poder público quer, muda a vida das pessoas, oferece dignidade, desenvolvimento socio-econômico-educacional e cultural. Este governo faz a diferença.