A necessidade de abrir caminho para a transposição das águas do Rio São Francisco tem modificado as vidas de moradores das áreas onde o canal de integração passará. Na Paraíba alguns deles recebem novas moradias para deixar as áreas em obras, como em São José de Piranhas, no Sertão paraibano. Entretanto, na cidade de Monteiro, moradores reclamam que as casas estão apresentando rachaduras após as obras e que as explosões realizadas no terreno prejudicaram os poços artesianos na região.
A agricultora Maria Helena Pereira morava em uma casa que ficava no espaço por onde o canal da tranposição das águas do Rio São Francisco vai passar, na cidade de São José de Piranhas. Ela recebeu, como indenização, uma nova casa. “Nós achamos melhor, porque nossa antiga casa era muito frágil e a gente tinha a esperança de construir uma melhor. Chegou na hora cerca, pois meu esposo estava desempregado, com dois filhos doentes e deu para construir uma nova casa”, disse ela.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, outras 845 famílias em todo o Nordeste estão recebendo casas nestes espaços chamados Vilas Produtivas Rurais, que ficarão às margens do rio. Na Paraíba, são cinco vilas.
Nas cidades de São José de Piranhas e Cajazeiras, por exemplo, cada família recebe uma casa, um hectare para criar animais e três hectares para plantação com irrigação. Muitos já planejam o que vão cultivar. “A gente pretende plantar nesse lote banana, coco, acerola, mamão. E no outro lote a gente pode plantar milho, feijão, fava”, disse a agricultora Divanise Raimunda.
Já cidade de Monteiro, no Cariri paraibano, a realidade é diferente. No sítio Mulungu, por exemplo, as famílias sentem os efeitos negativos com as obras da tranposição. O agricultor Eduardo Quitans começou a construir uma casa e, mesmo antes de terminar, a residência já está precisando de reparos. Ele acredita que as explosões para a abertura de túneis do canal tenham provocado rachaduras.
“Antes das obras as paredes não estavam rachadas. Há rachaduras nas paredes e no chão. O barulho [da explosão] é horrível que vem do chão estrondado e balançando os vidros”, disse Eduardo.
Houve prejuízo também para comeriantes. Para que os trabalhadores da obra cheguem aos pontos de construção da tranposição, na zona rural de Monteiro, uma estrada vicinal foi desviada. A via era caminho para o restaurante da comerciante Zélia da Silva Lopes. Com a mudança, ela reclama que perdeu clientes, pois eles não conseguem mais chegar ao estabelecimento. “O movimento caiu 70%. O pessoal vem e não acha mais o caminho”, conta a comerciante.
Outro problema relatado pelos moradores da zona rural de Monteiro, é que o poços artesianos deixaram de funcionar depois que as obras foram iniciada na região, com as explosões de dinamites.
“A gente ligou [o poço] e a água não chegou. Isso aconteceu depois das explosões. A terra cedeu e enterrou a vazão do poço. Para ativar ele de novo tem que ter cerca de R$6 mil”, destacou Zélia da Silva.
A cada oito dias, os carros pipas abastecem cisternas na zona rural de Monteiro. A água ajuda cerca de 40 famílias, que antes dependiam dos poços perfurados na região. “Secou mais de 12 poços de casas, fora outros quatro que foram cavados pela prefeitura”, disse o agricultor Eduardo Quintans.
Mesmo com estes problemas, o desejo dos agricultores é que obra fique pronta e cheguem dias melhores. “A gente tem a esperança de que a vida de todo mundo aqui vai melhorar, que a gente vai ter a água pra gente poder tomar banho, beber, dá aos animais, plantar. Então a felicidade é muito grande. Eu fico muito feliz, porque eu não quero que meu filho passe o que passei na infância”, afirmou o agricultor Cícero Batista.
A empresa responsável pelas obras da tranposição do rio São Francisco informou que está abastecendo as comunidades prejudicadas, com caminhões pipas. A empresa informou ainda que está prestando assistências técnica para as pessoas que tiveram problema com poços artesianos.
G1