Boqueirão é uma cidade da Paraíba situada no Cariri. Uma cidade cheia de possibilidades, onde em breve a transposição do Rio São Francisco trará mais que água para a Cidade as Águas. Terra das Crocheteiras e das redes. Geografia generosa onde a beleza das pedras e a generosidade do povo são e sempre serão a matéria primordial para a maior e mais importante feira literária da Paraíba. Falo da FLIBO – Festa Literária de Boqueirão, comandada pela ABES – Associação Boqueirãoense de Escritores e que este ano deverá homenagear Chico Buarque. Evento literário que foi se atrevendo nas proposituras de uma política pública em torno do livro e da leitura. Ação pedagógica que nos lembra Roland Barthes, quando diz que a “literatura contém muitos saberes”. Um marco na economia criativa da região. Seja pela ação contínua, seja na opção pela autonomia. Uma produção que nasce e se mantém na sociedade civil. Mesmo que precise das parcerias. Aliás, sempre necessárias com os governos municipal, estadual e até federal. Logicamente que muitos outros.
Muito mais que isso. A FLIBO vem se firmando através dos diálogos que passam principalmente pela sala de aula, no encantamento das novas gerações com a literatura e com os livros. Inclusive pelos bons frutos que ações desse tipo provocam na qualidade da ensino. Algo, aliás, indiscutível. Todavia, não para por aí. Traz para si o debate intelectual e ainda sabe extrair as melhores sementes para um plantio de boas referências da cidade, do Cariri e da Paraíba. Claro que este ainda não é o entendimento da grande maioria. Há os que duvidam. Aliás, cada vez menos. Foram muitos os avanços nos últimos sete anos. Mas, a FLIBO tem servido também como espelho para outras vocações da região. Principalmente no âmbito da Economia Criativa. Tudo numa cidade acostumada com a tradição rural e seus frutos. A FLIBO há muito extrapolou Boqueirão. Começa de forma segura a extrapolar a Paraíba. Vem como um olhar crítico para as cidades que teimam em desistir das suas vocações para apostar em eventos midiotizados que retiram da cidade uma soma enorme recursos e deixam pouco mais que latinhas de cerveja espalhadas pelo chão.
A VIII FLIBO traz um diferencial. Tanto pelo que já frutificou quando pela sua capacidade de reinvenção. Está inserida, também, dentro de um roteiro de turismo cultural que haverá de ser traduzido como um dos mais socialmente saudáveis. Dialoga com o patrimônio arqueológico da região. Especialmente no Lajedo do Marinho, onde as pedras disputam com as palavras a poesia da ancestralidade. Este ano, em agosto, acontecerá a oitava edição ininterrupta da FLIBO – um evento que se transformou numa confluência de boas energias. Uma vivência pedagógica que passa pelas escolas, mas também vai à praça, ao açude, desfila pelas ruas da cidade numa marcha que alerta com alegria para o que realmente importa que é a força da comunidade. Ombro a ombro, realizando o sonho de servir e servir-se da vida com inteligência e sensibilidade. Certamente a compreensão dessa lógica deve germinar onde as dissonâncias imperam. (Por Lau Siqueira)