O CABO LERO

Por Zelito Nunes

Lampião que costumava afirmar: – “Nunca vi um homem rosado na minha frente”. Morreu numa emboscada, teve a cabeça cortada e algum tempo depois terminava um ciclo de medo e terror, que ele espalhou por mais de 20 anos sertão afora.

Depois surgiram outros arremedos de cangaceiro, que não tiveram a mesma fama e duração.

Mas nunca faltou cabra valente no Sertão, principalmente depois que Lampião desapareceu de lá.

Um deles foi o Cabo Lero, da polícia militar de Pernambuco, mandado pra botar ordem num pequeno distrito de Salgueiro.

O Cabo Lero batia antes, pra perguntar depois, e os matutinhos morriam de medo dele que, segundo eles, era feito “papeira”, só dava na taba dos queixos.

Numa manhã de feira, estavam o cabo e mais uns dois ou três meganhas, montando um piquete num corredor de avelós, na entrada da vilazinha.

A intenção era tomar facas e cobrir os mais desaforados no “cipó de piaca”.

Estava lá a “patrulha”, e lá vem um velhinho mirradinho, com um chapeuzinho velho de couro na cabeça, puxando uma junta de bois num carro com uns sacos de carvão em cima.

Ordem pra parar, o velhinho para e já vem Cabo Lero:

– Tem faca?

– Tenho, sim senhor, uma faquinha pro serviço de carreiro.

– O senhor num já sabe que é proibido andar armado por aqui?

– Sei, sim senhor, mas essa não é arma, é pra minha “loita” de carreiro.

Nisso, o cabo já foi encostando o dedo nas fuças do velhinho:

– Dessa vez, eu vou só tomar a faca, mas da próxima você perde a faca, vai preso e ainda leva umas varadas, pra aprender a respeitar autoridade.

O velhinho, que até então era um poço de calma, não se abalou:

– Olhe, cabo, aí não vai dar muito certo, não.

E o cabo:

– Certo não, e por quê? – já levantando a mão.

– É o seguinte cabo: o senhor me prende, me dá uma surra dois ou três dias, depois o senhor manda me soltar, eu volto pra casa com a cara “relada”, “ói” inchados e os meninos, meus netos, vão perguntar:

– O que foi isso, meu avô?

Aí eu vou dizer a eles:

– E num foi o finado Cabo Lero?!

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