Por Zizo Mamede
Não é preciso fazer muito esforço, nem mesmo ser especialista em ciência econômica para perceber que há uma grande sintonia entre os discursos dos líderes do PSDB, dos comentaristas econômicos da grande mídia (TV, revistas semanais e jornalões) e de grande parte do alto empresariado nacional e multinacional sobre a economia brasileira: acusam o governo de Dilma Rousseff de ser intervencionista, de ser gastador, de ser descuidado com a inflação, de não ter compromisso com o crescimento do PIB, de não ter compromisso com a redução do custo-Brasil e com a produtividade econômica. Em suma, de ser incompetente e estatizante.
O que está no núcleo desta afinada sinfonia de políticos oposicionistas, da grande mídia e dos grandes empresários contra a política econômica do governo federal? O resgate do discurso neoliberal, que se achava inibido no Brasil na última década.
Com os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o Brasil, mesmo em ritmo de retardatário, ruma para um estado de bem-estar inimaginável décadas atrás. Esse estágio é uma realidade muito mais clara no âmbito das famílias – a vida melhorou bem “da porta de casa prá dentro”, na esfera da oikos-nomia, diriam os gregos antigos – do que nos espaços públicos, “da porta de casa para fora”, o segundo espaço da vida, marcado pela imobilidade das cidades, poluição, violência, insuficiência de boa parte dos serviços públicos e corrupção política.
A coalizão de forças políticas, de empresários e amplos setores da grande mídia contra o governo federal vai muito além da disputa eleitoral em 2014: vislumbra ganhar a presidência da República para restabelecer o projeto neoliberal interrompido em 2003 quando Lula da Silva chegou ao poder central. Para alcançar esse objetivo político e eleitoral essas forças constroem um discurso que, assim como na década de 1990, nega qualquer outro discurso fora da agenda do mercado capitalista.
Todos os dias as reportagens da grande mídia denunciam problemas em repartições públicas de norte a sul do Brasil. Todos os dias os comentaristas econômicos profetizam que do jeito que está o país vai explodir (ou implodir) com a hiperinflação que estaria a caminho. Todos os dias os grandes empresários e seus porta-vozes acusam o Estado de se meter onde não devia, de tributar os olhos da cara e de ser ineficiente. E todos os dias apresentam as mesmas receitas, sem alternativas: mais mercado e menos Estado, ou seja, mais liberalismo.
Essa movimentação bem articulada entre os líderes da oposição ao governo federal com a grande mídia e com os grandes empresários pretende restabelecer no Brasil o que o neoliberalismo conseguiu de mais exitoso: a hegemonia política e ideológica do discurso único. O discurso neoliberal que, uma vez vitalizado e bem sucedido eleitoralmente, consecutivamente ensejaria a adoção das tais “medidas impopulares” insinuadas pelo senador mineiro Aécio Neves (PSDB).
A questão é: Que medidas seriam essas que tanto unem os partidos da oposição à grande mídia e aos grandes empresários, todos contra a presidenta Dilma Rousseff?