Por João TRINDADE
No interior, na Noite de Festa (era assim que se chamava o Natal), nós, os meninos, ficávamos em polvorosa. Era uma mistura de tensão e alegria; misto de prazer e angústia, pela espera da chegada de Papai Noel.
Não é preciso dizer que, naquela época, meninos como eu acreditávamos, até certa idade, na existência do “bom velhinho”.
A história era a seguinte: Após a festa, o parque, passeio na “rua”, os beijus… a espera de Papai Noel. Papai Noel viria, na madrugada, colocar um presente embaixo da nossa rede.
Acreditava-se, piamente, nisso, mas, com o passar do tempo, a gente começava a desconfiar:
-Mãe, como é que Papai Noel entra na casa da gente?
-Pela janela.
– E a senhora deixa a janela aberta?
-…
Não havia por que duvidar; afinal, naqueles tempos, nas cidades do interior, não se falava em ladrão.
Criança pobre, para mim qualquer brinquedo servia. Para quem se contentava com DKWs e Kombis que vinham dentro dos vidros de Toddy, qualquer brinquedo de plástico era motivo de satisfação.
Como era boa a sensação de saber que, no dia seguinte, um presente me esperava embaixo da rede.
Quando comecei a desconfiar da não existência de Papai Noel, ficava acordado até bem tarde; até que o sono me vencia. Minha mãe, matreira, aproveitava, então, esse momento para colocar o presente.
Um dia, quase pego minha mãe. Foi por um triz… Mas, quando levantei a cabeça, vi apenas um vulto. Voltei a dormir. O sono me venceu.
(“Esse é o som do Parque de Diversões Lima, mais uma vez aqui nesta cidade…”).
Eu era louco por roda-gigante. Minha mãe, porém, superprotetora, não deixava nenhum dos filhos “andar” de roda-gigante. Acho até que com certa razão, porque (mais tarde experimentei!) só com aquela varetazinha de alumínio como proteção, aquele balanço todo das cadeiras…
O melhor presente de Natal que recebi (inesquecível!) foi uma roda-gigante. Uma réplica perfeita. Quando girava, as cadeiras balançavam, como as cadeiras da roda-gigante de verdade… E, para minha alegria, havia para cada cadeira um bonequinho. Passei dias e dias sonhando… Uma festa! Tratei, logo, logo, de pegar a minha veraneiozinha de plástico, meu “carro de propaganda”, cujas difusoras eram carretéis de linha, e anunciar “à cidade” a “chegada” do novo parque de diversões. Eram tardes e terdes nessa brincadeira encantadora.
Ainda estava encantado com a minha roda-gigante, quando uma vizinha, de forma seca e cruel, Fulminou:
-Papai Noel não existe!
Escutei a frase, atônito. Não é que achasse erro nela; já estava bem grandinho para acreditar em Papai Noel. Mas não precisava ter sido assim, chamando-me, implicitamente, de débil mental. Chorei, chorei, horas e horas… Com que direito me tiravam o meu Papai Noel?
Hoje, alimento, até certa idade, nos meus filhos, a fantasia. Na vida, é preciso também sonhar.
(Texto publicado, originalmente, em O Norte, 25 de dezembro de 1999).