Por Ramalho Leite
Ele não gostava desse tratamento: o “poeta das pombas”; todavia, foi assim que ficou conhecido o maranhense Raimundo Correia, batizado Raimundo da Mota de Azevedo Correia e nascido em um navio na baía de Mogúncia, litoral do estado do Maranhão, no dia 13 de maio de 1859. “As pombas”, um dos sonetos mais famosos e inserto no seu segundo livro, “Sinfonias” (1883), lhe valeu o epíteto de “ poeta das pombas”: vai-se a primeira pomba despertada, vai-se outra mais…
Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ao lado de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira compôs a tríade do parnasianismo brasileiro, escola literária que nasceu na França e chegou entre nós tendo Alberto de Oliveira como precursor. Esses poetas preferiam o soneto, fugiam das emoções encarando a realidade e, na estética de seus versos buscavam a beleza e a sonoridade perfeitas. Raimundo Correia, porém, iniciou-se no romantismo e foi um artista do verso. Para Manoel Bandeira, construiu “alguns dos versos mais misteriosamente belos da nossa língua”. Morreu no berço do parnasianismo, em 1911 e, somente em 1920, por iniciativa da ABL, seus restos mortais chegaram à Pátria.
Como seu pai, o desembargador José da Mota de Azevedo Correia, foi um servidor da Justiça. Começou como promotor e foi juiz a vida inteira, passando por várias comarcas do Rio de Janeiro. Em Cabo Frio, onde seu genitor foi juiz por duas vezes, o poeta diz que terminou a sua infância e viveu a adolescência à beira mar, onde teria lido “Os Lusíadas”, de Luis Vaz de Camões. Nos primeiros cinco anos de idade, Raimundo Correia teria residido em Bananeiras, pois acompanhara o pai, nomeado para aquela comarca a partir de 1865. A descoberta é do historiador Humberto Nóbrega, revelada em seu discurso de posse no IHGPB.
Ao detalhar a evolução histórica de Bananeiras, cidade de sua origem familiar, o saudoso Humberto Nóbrega afirma: “Dentre os servidores da Justiça, vale a pena, de relance, focalizar a passagem de José da Mota Azevedo Correia, posteriormente ministro do Conselho Supremo Militar, nomeado para Bananeiras a 11 de maio de 1865, pois é o progenitor do cintilante Raimundo Correia…assim, aos cinco anos de idade, veio com o pai morar em Bananeiras”.Humberto imagina que pode ter sido o cenário da Cupaóba, “onde o dia termina mais cedo pois o horizonte é limitado pelos recortes serranos”, a inspiração inicial do poeta do “Mal Secreto”.
Nas pesquisas que realizei sobre a trajetória do portugues José da Mota Azevedo Correia verifiquei que houve um período da sua vida em que foi juiz itinerante desse Brasil do Segundo Império e, aportou em Bananeiras (PB), em Vila Nova (SE), São Miguel (SC) e Bananal (SP) antes de se tornar desembargador pelo Mato Grosso. Foi nomeado Ministro Adjunto do Superior Tribunal Militar onde entrou em 1890 e aposentou-se em 1891, vindo a falecer quatro anos depois, em 14 de janeiro de 1895. A primeira infância do poeta, seu filho, seria também marcada por essa peregrinação a vários estados brasileiros, até pousar na Corte e se matricular no Colégio Pedro II, antigo Colégio Nacional. Como acompanhou o pai na sua faina de distribuir justiça pelo Imp&eac ute;rio a fora, é certeza que o vate, que se dizia sem pátria porque nasceu no oceano, morou um período da sua vida na Vila de Bananeiras.