Por Zelito Nunes
A televisão, quando chegou lá pelo sertão, bagunçou com a cabeça dos matutos. E, se brincar, até hoje tem gente que não acredita caber tanta gente ali dentro.
Na primeira ida dos americanos à lua, Zé Quelé, ex- cangaceiro e ex-soldado, que era irmão de Quelé do Pajeú, já com quase oitenta anos, e morando na Prata da Paraíba, puxava o punhal pra quem dissesse que aquele foguete que ele vira entre chiados e chuviscos das TVs da época, tinha realmente pousado na lua.
– Tá doido! Como é que um troço grande desse jeito, senta num troço tão pequeno daqueles, dizia se referindo à lua.
Chico de Dedês, em Ouro Velho, não só gostou, como aprovou a televisão. E descobriu coisas novas:
– Num sei como é que esse povo da rua gosta de ver briga de murro, parêia de carro e o pior, matam e morrem por causa de home jogando futebol.
Na verdade, o sertanejo, mudou os seus conceitos, a partir da magia da televisão.
Mas nem sempre foi assim. Enquanto hoje, principalmente nas grades cidades, o assunto que prevalece entre os homens é cem por cento futebol (mulher nem pensar) os velhos sertanejos gostavam mesmo era de falar de inverno de pegas de boi e… de mulher.
– Visse as calça de Maria?
– E eu lá tive essa sorte!
Conversavam os dois matutinhos de Jessier na feira de Itabaiana.
Contam que um bando de sertanejos toda tardinha se reunia num cantinho lá no céu pra falar de inverno e chuva (já que no céu deve ser proibido falar de mulher). Ficavam ali jogando conversa fora até a boquinha da noite, quando se recolhiam.
– Pense num inverno grande foi aquele de 37!
– Foi nada. Aquilo foi lá chuva! Chuva mesmo foi em 28!
Nisso passava um velhinho baixinho branquinho com a barba branca quase arrastando no chão, que nunca parava pra conversar, só dizia:
– Vocês nunca viram chuva!
Ficava todo mundo puto, por que ele nunca conversava com ninguém, só passava, entrava na conversa dos outros e ia embora, até que um dia um deles perguntou pra um dos mais velhos:
– Me diz uma coisa, quem é esse velho abusado que não quer conversa com ninguém e fica dizendo que nós nunca vimos inverno?
O outro respondeu:
-Sei quem é não, dizem que é um tal de Noé!