Por Zizo Mamede
Todo santo dia o povo brasileiro é bombardeado pela grande mídia com notícias sobre a saúde da economia e das finanças públicas: projeções do PIB (produto interno bruto); expectativas sobre a inflação; o câmbio dólar-real; evolução da bolsa de valores aqui e alhures; taxa de juros; superávit primário e outras variáveis do economês liberal.
Entre os temas econômicos mais abordados está o da inflação, que nas últimas décadas consolidou como parâmetro o regime de metas. Por anos a fio, os economistas que servem a grande mídia e ao sistema financeiro (bancos, credores da dívida pública, “investidores”) avaliam as economias a partir desta baliza. E mais, sempre com um olho no volume de reservas cambiais dos governos nacionais para dar garantias de pagamento dos compromissos com os “credores”.
Com o PIB não é diferente: os economistas ortodoxos, todos os dias na mesma cantilena, fazem exercícios de futurologia sobre a expansão ou não da base econômica dos países, se a cada ano o valor agregado vai ser significativo ou se vai ser um decepcionante “pibinho”. Avaliam os governos e as nações a partir da evolução da riqueza absoluta, sem avaliar como e se a evolução do PIB contribui para a qualidade de vida da população.
No caso das opiniões sobre o PIB do Brasil, o exercício predileto dos especialistas que ancoram a grande mídia é comparar com as economias da China, a Índia, a Rússia, a África do Sul. Quando falam do PIB, nunca comparam com a qualidade de vida nesses países. Também não são comuns as análises sobre a concentração da renda produzida, sobre a variação no Índice de Gini que mede como a riqueza é repartida, sobre os ganhos dos assalariados no Brasil, se fosse só para tocar na tecla da economia.
Mas, há outros indicadores para avaliação das sociedades em um mundo globalizado, só que são pouco divulgados. Por exemplo, o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, usado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O IDH tem como objetivo avaliar comparativamente os níveis de desenvolvimento humano dos diversos países.
Mais recentemente surgiu o IPS – Índice de Progresso Social, que faz estudos sobre o desenvolvimento econômico e o progresso social dos países, com o intuito de servir de base para as medidas de promoção do bem-estar humano. Noutras palavras, como o sucesso econômico não explica tudo nem o único objetivo da vida, o que se quer ver é quantas andam a qualidade de vida dos povos do mundo.
Quando a questão é o PIB, o Brasil tem a sétima maior economia do mundo neste momento: a riqueza agregada à economia brasileira em 2013 foi de quase 5 trilhões de reais. Quando o foco é a inflação, é bom lembrar que nos últimos doze anos o Brasil só saiu do teto da meta em 2003, com um índice de 7,6%, por mais que a grande mídia tente convencer o povo brasileiro de que a inflação está sempre sendo estourada acima do teto da meta de 6,5%.
Mas quando o assunto é desenvolvimento humano o Brasil ocupa posições intermediárias no conjunto das nações: O IDH do Brasil atualmente é de 0,730 numa escala de zero a 1. O Brasil está em 85º lugar no ranking de desenvolvimento humano, numa posição intermediária, bem atrás de um país economicamente “pobre” com Cuba, mas a frente da China, Índia, Rússia e África do Sul, que formam com o Brasil o conjunto denominado de BRICS.
Já o Índice de Progresso Social (IPS) do Brasil publicado recentemente é 69,9 numa escala de pontos que vai de 1 a 100 e ocupa o 46º lugar entre 136 países avaliados. Neste índice o Brasil está bem atrás de países considerados economicamente “pobres” como a Costa Rica, mas a frente dos mesmos países do BRICS.
Em suma, se é para falar de inflação, de PIB e de outros indicadores puramente econômicos o Brasil não vai mal, pelo contrário, está melhor do que vários outros países do mundo, principalmente no quesito emprego, onde ostenta uma situação invejável quanto ao número de postos criados. – Mesmo assim, aqui a grande mídia fala muito mal da economia brasileira.
Sobre desenvolvimento humano ou progresso social pouco se fala porque levaria a questionamentos sobre as injustiças sociais de um país que sabidamente não é economicamente pobre; porque certamente levaria ao debate sobre o a necessidade de aprofundamento das mudanças que foram iniciadas na última década.
Imagine-se se a análise fosse sobre o Brasil comparado com o próprio Brasil? – Não! A grande mídia não quer nem pensar em comparar o Brasil de ontem com o Brasil de hoje.